Finanças

Entenda como empresas driblam a Selic quando precisam de dinheiro

Selic resiliente alimenta o mercado de leilão de recebíveis, setor que tem movimentado bilhões e atraído gigantes como Gerdau, Petrobras, Suzano, Braskem e St. Marche

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Gustavo Medeiros, CEO da Monkey, já transacionou R$ 100 bilhões e agora quer conquistar novos mercados fora do Brasil (Crédito: Divulgação)

Por Jaqueline Mendes

O cenário de queda da taxa básica de juros, que na última reunião do Banco Central recuou 0,5 ponto percentual, para 12,25% ao ano, trouxe certo alívio sobre o humor da economia nos próximos meses, mas não resolveu a vida para grande parte das companhias brasileiras.

Em um ambiente de custo ainda elevado para linhas de financiamento e capital de giro, as empresas têm driblado a resiliente Selic de dois dígitos com um mercado de crédito alternativo: o de leilão de antecipação de recebíveis.

Pelos cálculos da fintech Monkey, líder do setor na América Latina, a demanda por antecipações em sua plataforma cresceu 45% entre janeiro e outubro deste ano, em comparação com o mesmo período do ano passado.

Isso porque, graças à concorrência entre as instituições financeiras plugadas em seu marketplace, os custos são até 70% menores do que a média cobrada diretamente pelos grandes bancos ­— o que alivia o caixa das empresas de todos os portes em tempos de economia árida e alto nível de endividamento.

É uma boa notícia em um ambiente de empresários no sufoco. Segundo a Serasa Experian, 6,59 milhões de empresas estiveram inadimplentes em setembro, com mais de R$ 122 bilhões em dívidas.

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Na avaliação do cofundador e CEO da Monkey, Gustavo Medeiros, os custos menores gerados pelo leilão de recebíveis beneficiam principalmente pequenas e médias empresas, que podem antecipar contratos de prestação de serviços, de fornecimento de produtos ou mesmo vendas de pequenos valores em operações com cartões de crédito.

Gigantes como Petrobras, Suzano, Eldorado, Braskem, Gerdau, Scania e St. Marche, entre outros clientes da Monkey, que juntas representam 15% do PIB, têm ampliado o uso da modalidade com seus fornecedores para garantir o fluxo de caixa e a saúde financeira de suas cadeias de suprimentos.

Um dos exemplos desse fenômeno é a Gerdau. A maior produtora de aço do mundo utiliza a solução da Monkey desde 2019, antecipando cerca de R$ 170 milhões em crédito mensalmente a seus fornecedores pela plataforma. “Para a Gerdau houve um ganho operacional, trazendo simplicidade e controles. Tivemos um ganho de confiabilidade do processo, pois a plataforma é robusta em termos de documentação para auditoria”, afirmou Andrea Diniz Ferreira, gerente de Tesouraria e Trade Finance da Gerdau.

Atualmente, mais de 350 empresas da cadeia de suprimentos da Gerdau são beneficiadas com o programa e o objetivo, segundo ela, é que no próximo ano o benefício alcance mais fornecedores.

Esse movimento fez com que a própria Monkey apresentasse desempenho recorde nos últimos meses. A empresa, criada em 2016, acaba de ultrapassar a marca de R$ 100 bilhões em antecipações desde a sua criação — sendo que cerca de R$ 40 bilhões foram transacionados somente neste ano.

Segundo o CEO, a popularização desse mercado se explica, principalmente, pelas vantagens em termos de custo, segurança e transparência nas operações. “Assim como acontece em marketplace convencional, fornecedores estimulam a concorrência entre os bancos em uma única plataforma”, afirmou. “Nos moldes de um leilão, a instituição financeira que oferecer as melhores condições e taxas para a empresa conquista a operação. Bom para o banco, ótimo para o fornecedor”, disse Medeiros.

Andrea Diniz Ferreira, gerente de Tesouraria da Gerdau (Crédito:Divulgação)

“Para a Gerdau houve um ganho operacional, trazendo simplicidade e controles.”
Andrea Diniz Ferreira, gerente da Gerdau

Internacionalização

Mesmo em um cenário de trajetória de queda da Selic até o ano que vem, a perspectiva para o mercado de antecipação de recebíveis é de forte crescimento — dentro e fora do país.

Segundo Medeiros, a Monkey tem acelerado seu processo de internacionalização, com operações no Chile, México e Estados Unidos, em parceria com o Banco Inter, movimento que deve a ajudar a empresa a desbravar outros mercado.

“A marca de R$ 100 bilhões é um dos nossos cartões de visita mundo afora e mostra o quanto nossa tecnologia está ajudando as empresas a manterem suas finanças em dia”, acrescentou Felipe Adorno, cofundador e CTO da Monkey.

“E isso é apenas o começo. Estamos sempre trabalhando para tornar a vida financeira dos nossos clientes ainda mais simples, não apenas no mercado brasileiro, mas de forma global.”

Nesse cenário que mistura desafios e oportunidades, a Selic pode até demorar a cair forte por aqui, mas as empresas brasileiras já se anteciparam por um novo caminho.