O Planejamento Estratégico está morto

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Jorge Sant’Anna: "No novo contexto, as estruturas internas e as cadeias de valor ganham plasticidade nunca observadas" (Crédito: Divulgação)

Por Jorge Sant’Anna 

O Planejamento Estratégico é uma das atividades mais confusas e opacas do mundo empresarial. Técnicas, Frameworks, Consultores e muito investimento são empregados, mas poucos colaboradores entendem o objetivo e o resultado do processo.

O foco de uma estratégia empresarial deveria ser a criação de valor econômico sustentável, aumentar a disposição dos clientes de consumir produtos e serviços, maximizando a receita e reduzindo custos dos recursos necessários à operação. Tudo se complica quando entra a dimensão sustentável na equação: como criar valor continuamente para empresa, sociedade e meio ambiente?

Até hoje empregamos ferramentas como Análise SWOT (Forças, Fraquezas, Oportunidades e Ameaças) e estruturas como a proposta pelo professor Michael Porter, em que ele observou como outros fatores, além da concorrência direta, influenciam a performance das empresas. Entramos aqui no entendimento profundo das cadeias de valor em que a empresa opera.

No novo ambiente de negócios, o pensamento estratégico passa ser um debate sobre adequação. Como as organizações se adaptam às mudanças e atingem performance superior e sustentável. Bem-vindos ao bom e velho “Darwinismo”.

No novo contexto, as estruturas internas e as cadeias de valor ganham plasticidade nunca observadas. O comprometimento dos colaboradores torna-se fator crítico de sucesso, o meio-ambiente e a diversidade passam a ser componentes fundamentais. Mais do que nunca uma visão holística deve ser considerada, o que me leva imediatamente a pensar em um “Ikigai” corporativo.

“No novo ambiente de negócios, o pensamento estratégico passa ser um debate sobre adequação. Como as organizações se adaptam às mudanças e atingem performance superior e sustentável”

Segundo o escritor Ken Mogi, “Ikigai” (iki-viver e gai-razão) descreve o motivo para se levantar de manhã, que mantém o entusiasmo e a alegria pela vida. Trata-se de insumo básico para a alta performance, resiliência e adaptabilidade. Uma nova abordagem de planejamento estratégico deve buscar mais do que uma visão estática de fora e de dentro da organização, ou seja, a intersecção dinâmica entre todas as forças orgânicas na instituição.

Antes de mapeamentos, data mining, pesquisas e consultorias, deveríamos buscar a razão de viver da empresa, um elemento que desaparece com as novas gerações e leva a experiências erráticas: novos modelos de negócio muitas vezes improváveis; foco em eficiência a qualquer preço; entre outras, todas baseadas em maravilhosos documentos de planejamento estratégico.

Segundo Hubert Joly, ex-CEO da rede Best Buy, para encontrar o caminho estratégico da organização, temos de achar a intersecção das quatro dimensões preconizadas pelo “Ikigai”: o que o mundo precisa; o que sabemos fazer muito bem; o que somos apaixonados por fazer; e, o que somos pagos para fazer.

Essa é a fórmula dos empreendedores de sucesso, que, infelizmente, com o amadurecimento da empresa, acaba se perdendo, um processo denominado “gap de propósito”.

Todo aparato técnico, consultivo, matemático, estatístico deveria ser colocado a serviço do descobrimento destas dimensões e na busca de sua interconexão. O livro “Great by Choice”, de Jim Hansen, está repleto de exemplos de empresas de sucesso que aderiram a uma forma holística, buscando a própria verdade e razão de ser.

O Planejamento Estratégico está morto. Ter a estratégia acertada nunca foi tão importante. Qual caminho sua empresa está seguindo?

Jorge Sant’Anna é diretor-presidente e cofundador da BMG Seguros E membro do Conselho de Administração da Associação Brasileira de Bancos