É preciso tirar o ESG do papel!
Por Heverton Peixoto
A criação de um mundo mais ético, justo, igualitário e ambientalmente equilibrado exige uma mudança imediata de postura por parte das organizações. Por isso a sigla ESG, que reúne três pilares importantes para as empresas (ambiental, social e governança corporativa) tem ganhado protagonismo na pauta empresarial.
Utilizadas para avaliar o desempenho e o impacto das companhias, as práticas ESG representam uma oportunidade de destaque perante investidores e consumidores, que passaram a valorizar não somente o desempenho financeiro, mas também a interação e o impacto das empresas no meio ambiente, na sociedade e também suas práticas de governança.
Liderada pela startup de inteligência de dados Humanizadas, a pesquisa Panorama ESG Brasil entrevistou 570 participantes, dos quais 52% ocupam cargos de liderança. O estudo apontou que quase metade (47%) das empresas ouvidas se consideram referências em ESG.
Os entrevistados disseram que os principais motivadores para a adesão à agenda são: melhoria de reputação da marca, impacto socioambiental e redução de riscos ambientais, sociais e de governança. Se a liderança das empresas já está conscientizada dos benefícios de se aderir à agenda ESG, estamos a apenas um passo de deixar de tratar o ESG como uma tendência. Ainda que seja necessário reconhecer algum avanço real, precisamos de mais prática.
Para fazer acontecer, dois movimentos precisam sair do papel. O primeiro, dentro das empresas, abrange diversidade, inclusão e a promoção de uma cultura baseada na ética e na responsabilidade social.
O segundo é olhar para fora, para os fornecedores, clientes e stakeholders. As empresas precisam entendê-los como parceiros, como oportunidades de criar diálogos construtivos sobre práticas sustentáveis e responsabilidade corporativa. Isso pode ajudar a promover a conscientização e a implementação de políticas que apoiem a sustentabilidade em todos os níveis da economia.
Apoiar comunidades locais por meio de iniciativas sociais e filantrópicas não pode ser apenas uma ferramenta para posts e likes em ação especial no final do ano. É preciso mais! É preciso muito mais! Essas ações devem ser sustentadas por um compromisso genuíno com o bem-estar das comunidades locais e devem refletir os valores fundamentais da empresa.
O envolvimento ativo com a comunidade deve estar alinhado com a estratégia de negócios e os valores da empresa. As iniciativas precisam ter um impacto duradouro e sustentável para capacitar os que tanto precisam por meio de programas educacionais e treinamento profissional para oportunidades de empregos. Essa integração reforça o compromisso com a responsabilidade social, o S da sigla ESG.
E tudo isso deve ser feito às claras, de forma transparente. As empresas devem oferecer e compartilhar feedback sobre a jornada, sobre os desafios e os resultados dessas iniciativas. A prestação de contas para a sociedade é fundamental para manter a confiança e a credibilidade.
As instituições financeiras desempenham um papel crucial na promoção das práticas e investimentos responsáveis. Abordar desafios ambientais e sociais requer uma conduta que possa ser implementada em uma escala significativa e com rapidez.
Tirar o ESG do papel é uma questão de querer! Precisamos todos entender que podemos nos tornar catalisadores de mudanças positivas, que essas ações tendem a impulsionar o progresso em direção a um planeta social e ambientalmente sustentável.
Abraçar o ESG não é apenas um compromisso de dever moral, mas também uma oportunidade inestimável para as empresas liderarem pelo exemplo e inspirarem uma transformação positiva em escala global.
* Heverton Peixoto é engenheiro civil com MBA em Corporate Finance no Insead, CEO do Grupo Omni e conselheiro do Instituto de Inovação em Seguros e Resseguros da FGV