Esporte feminino é a bola da vez das marcas
Espaço poliesportivo exclusivo para mulheres, Nossa Arena chega ao terceiro ano com cinco patrocínios, incluindo Visa, Nike e Vivo. Empresas também apoiam projeto social que forma jogadoras a partir dos 10 anos
Por Letícia Franco
A operadora de meios de pagamento Visa é parceira global da Copa do Mundo Fifa de Futebol Feminino desde 2007 e apoia equipes formadas por mulheres há duas décadas. Ainda assim, em seus 52 anos de atuação no País, não havia uma iniciativa da empresa voltada exclusivamente para dar maior visibilidade a uma de suas bandeiras, que é promover diversidade nas quadras e estádios.
Isso mudou com o recente patrocínio à Nossa Arena, primeiro espaço poliesportivo brasileiro exclusivo para mulheres. “É um reforço no compromisso da marca na luta por equidade de gênero no esporte, com olhar atento para diferentes iniciativas em cada sociedade”, disse Mariana Dinis, diretora de marketing da Visa Brasil.
Agora, a empresa se une às marcas Nike, Vivo, Centauro e Sportv no apoio ao projeto, que carrega o propósito de ser um espaço seguro e acolhedor para a prática esportiva feminina.
Sócia-fundadora da Nossa Arena, Julia Vergueiro afirmou à DINHEIRO que “as mulheres tendem a praticar esportes em menor quantidade do que os homens por causa de questões culturais, segurança e assédio”.
Para ela, a associação das marcas ao espaço faz parte de uma causa ainda maior: os direitos das mulheres. “Os patrocínios de negócios com propósito social geram um importante valor reputacional a uma causa, além dos benefícios financeiros”, disse Vergueiro.
Desde 2021, ano que ela e a sócia Fernanda Luiz inauguraram o espaço na zona oeste da capital paulista, o quadro de patrocinadores cresceu 60%. Atualmente, a arrecadação financeira das cinco parcerias representa 16% do faturamento anual de R$ 1,8 milhão. E não é apenas na Nossa Arena que mais marcas buscam se envolver com o esporte feminino.
Segundo Dinis, a Visa tem buscado equiparar o investimento em campanhas de ambos os gêneros. “Um exemplo recente foi a destinação do mesmo valor para as últimas copas de futebol masculina e feminina,” afirmou. É um sinal dos tempos.
A evolução da visibilidade e do envolvimento de marcas em competições e projetos sociais protagonizados por mulheres atletas é um movimento que cresce mundialmente. Prova disso é que neste ano, pela primeira vez, a Fifa vendeu todas as cotas de patrocínio da Copa do Mundo Feminina, realizada na Austrália e Nova Zelândia. Os 30 acordos comerciais representam duas vezes e meia o registrado no torneio da França, em 2019, que teve apenas 12 patrocínios.
Para a Vivo, parceira da Nossa Arena desde 2021, as empresas têm papel importante nessa transformação. “Devemos usar a força perante o público para abrir cada vez mais espaços em prol do esporte feminino, contribuindo com locais que garantam às mulheres a possibilidade de praticar esportes, na criação de repertório e referências, além de estimular audiências”, disse Marina Daineze, diretora de marca e comunicação da Vivo.
BENEFÍCIOS
O investimento nesse segmento traz diversos ganhos, visto que o público está cada vez mais preocupado com o impacto das marcas na sociedade. O apoio a projetos como Em Busca de uma Estrela, que tem o objetivo de desenvolver a base do futebol feminino no Brasil através da formação profissional de meninas entre 10 e 18 anos, é uma amostra disso.
Para a sócia-fundadora do projeto, Camila Estefano, a parceria entre marcas e projetos sociais proporciona um apoio mais amplo às causas sociais se comparado aos patrocínios aos clubes.
“A empresa patrocinadora se envolve desde o desenvolvimento de meninas em situação de vulnerabilidade social até o fortalecimento da modalidade”
Camila Estefano, sócia-fundadora do projeto Em Busca de uma Estrela
A única fonte de receita da organização sem fins lucrativos é o investimento de 15 patrocinadores — entre eles a Vivo, que mantém o funcionamento do projeto em São Paulo.
De olho no futuro, Estefano almeja maior apoio para a expansão em outros estados. “Estar presente em mais de uma região é essencial no cumprimento dos nossos objetivos e o apoio das marcas é justamente para isso. Quando uma empresa se envolve com os valores sociais, o crescimento é sustentável e beneficia toda a sociedade”, disse.
Em um ano e seis meses de trabalho, 31 meninas foram selecionadas por times paulistas, além da ida de uma participante para a Cowley University (EUA).
CEO do e-commerce de roupas esportivas para mulheres Deixa Ela Treinar, Fernanda Dias entende que, apesar dos avanços, muitas marcas ainda não sentem segurança para o investimento. “O setor ainda não é visto com a mesma naturalidade do esporte masculino”, disse Dias.
Para ela, isso afeta a visibilidade e o financiamento de atletas e competições. Algo que está mudando a partir de iniciativas como a Nossa Arena.