Negócios

Setin, de pai para filha

Com 45 anos de atuação, incorporadora criada em 1979 pelo patriarca Antonio prepara linha sucessória em meio à estimativa de R$ 700 milhões de VGV

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Bianca tem seguido os passos do pai, Antonio, no mercado imobiliário e vive a expectativa por um 2024 mais promissor com a possível redução da taxa de juros (Crédito: Divulgação)

Por Angelo Verotti

Uma entrevista concedida pelo pai, Antonio, há seis anos marcou a trajetória de Bianca Setin na incorporadora que leva o sobrenome da família e que em 2024 completará 45 anos de atuação no mercado imobiliário nacional. A filha se surpreendeu com a declaração do fundador e presidente de que não havia um sucessor entre os oito filhos frutos de quatro casamentos. Foi o suficiente para uma conversa com o patriarca e o início da preparação para um dia — sem prazo definido — administrar os negócios. Ou melhor, assumir o controle de uma empresa tradicional que, este ano, deve alcançar R$ 700 milhões em Valor Geral de Vendas (VGV) em lançamentos, um aumento de quase 15% na comparação anual. “Estamos cientes das oscilações econômicas e atentos às mudanças nas demandas dos consumidores. É nesse cenário dinâmico que encontramos oportunidades para crescer e evoluir sempre”, disse Antonio Setin à DINHEIRO.

A confiança do presidente no crescimento dos negócios da Setin é proporcional à dedicação de Bianca à empresa. A paulista trabalha no setor imobiliário há 25 anos e tem experiência em praticamente todos os departamentos da companhia. No começo da carreira, saía da escola diretamente para a empresa.

Cursava a faculdade de Arquitetura e, simultaneamente, estagiava no hotel Pullman, bandeira trazida ao Brasil pelo pai. A fase coincidiu também com o período de parceria entre a Setin e a rede francesa Accor, que introduziu no País bandeiras de hotelaria econômica como Mercure, ibis e Formula 1 (atual ibis Budget). “Posso dizer que entregamos mais de 6,5 mil quartos hoteleiros”, disse Bianca. Um volume considerável, tendo em vista que a Setin iniciou as atividades com a construção de casas populares, em 1979 e, seis anos depois, passou a apostar em imóveis residenciais de médio-alto e alto padrão.

O Prado, na Bela Vista, foi lançado este ano e tem VGV de R$ 162 milhões. Já o Biotique, no Ibirapuera, tem duas torres, de R$ 198 milhões e de R$ 248 milhões (Crédito:Divulgação)

Uma mudança nos rumos da empresa, no entanto, influenciou temporariamente no futuro da arquiteta. Em 2007, houve a fusão da incorporadora Setin com a construtora Klabin Segall. Bianca não viu sentido em seguir no barco. Montou um escritório em sociedade com uma amiga para projetos residenciais, implantações hoteleiras e de áreas comuns, mas o negócio não prosperou.

Não demorou para Bianca voltar a trabalhar com o pai. Em 2010, a Klabin Segall foi vendida para a Agra Empreendimentos Imobiliários, e a Setin voltou a atuar sozinha.

Apostou inicialmente em um terreno no Cidade Matarazzo. “Vendeu quase todos os imóveis numa noite. E, ainda no final de 2010, retomamos as atividades no setor hoteleiro”, disse a executiva. A voracidade da incorporadora para negócios coincidiu com o apetite da arquiteta para trabalhar. Inicialmente, assumiu área de projeto e produto e já há quase dois anos e meio, a área financeira.

PORTFÓLIO

Além de projetos de hotéis e também de studios, à época a Setin retomou os projetos em residenciais de alto e médio-alto padrão. Este ano, por exemplo, lançou o primeiro empreendimento no Brooklin (Zeit, com VGV de R$ 140 milhões). “Fizemos também um lançamento de alto padrão [Biotique Ibirapuera] a poucos passos do Parque do Ibirapuera. Tem uma torre de R$ 198 milhões e outra de R$ 248 milhões. E lançamos o Prado Paulista, na Bela Vista, com VGV de R$ 162 milhões.”

No médio-alto padrão a incorporadora disponibiliza a linha smart home, apartamentos de dois ou três dormitórios a partir de R$ 11,5 mil o m². Já os studios partem de R$ 250 mil, com unidades que podem alcançar R$ 550 mil dependendo da região, caso de um condomínio na rua Pamplona, nos Jardins. A empresa criou a marca Downtowm para identificar os empreendimentos do tipo no Centro. O oitavo prédio será entregue este mês, na Praça da República.

OBRAS

A empresa prevê entregar três empreendimentos este ano e outros dois em 2024. Atualmente, são nove canteiros de obras, além de outros dois a serem iniciados.

O portfólio de produtos da companhia na atualidade está espalhado por bairros como Vila Leopoldina, Perdizes, Pinheiros, Ipiranga e Chácara Klabin. Mas engana-se quem pensa que a atuação da Setin se restringe à capital de São Paulo e região metropolitana. A empresa prevê uma temporada de bons negócios em 2024. “Nossa expectativa é de melhora do setor, embalada por uma queda de taxa de juros a um dígito.” Uma notícia promissora para o futuro do mercado e da Setin, seja sob o comando de Antonio ou de Bianca.