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Energia solar: a incrível jornada de resiliência da EcoPower

EcoPower completa dez anos e chega a meio bilhão de reais em faturamento após investir em energia solar para todas as regiões do país

Crédito: Los Muertos Crew / Pexels

Painéis fotovoltaicos: parte do sucesso da EcoPower ocorreu após mudar de rota, em 2018, e investir em regiões brasileiras nas quais o mercado não era competitivo e tão presente (Crédito: Los Muertos Crew / Pexels)

Por Letícia Franco

Num mundo em constante e acelerada transformação, o termo resiliência ganhou status de skill indispensável. No universo corporativo, resiliência não significa apenas seguir em frente, mas principalmente ajustar as estratégias e prosperar. Por isso não há palavra que defina melhor a jornada da EcoPower, franqueadora de energia solar que espera fechar este ano com faturamento de R$ 500 milhões e lucro esperado de R$ 20 milhões. Um número improvável até pouco tempo atrás.

Isso porque a jovem empresa fundada em 2013 viveu uma ‘primeira infância’ de risco, situação comum a boa parte do empreendedorismo brasileiro, no qual uma a cada quatro iniciativas não sobrevive após os primeiros cinco anos, segundo o Sebrae. “Nossa ‘estratégia’ entre 2013 e 2017 era não falir. O negócio apenas sobrevivia”, disse à DINHEIRO Anderson Oliveira, o CEO da companhia.

De lá para cá, a EcoPower saiu da situação equivalente à de ‘insegurança alimentar’ para se tornar uma das maiores franqueadoras de instalações de sistemas de geração de energia solar para residências, empresas e agronegócio. Uma guinada que exigiu desafios de gestão e até mudanças significativas no modelo de negócios.

E parte do sucesso na virada ocorreu após mudar de rota, em 2018, e investir em regiões brasileiras nas quais o mercado de energia solar não era competitivo e tão presente.

Hoje, a empresa atua nos 26 Estados e no Distrito Federal, com 350 franquias e cerca de 40 mil instalações.

O case EcoPower é resultado de uma trajetória muito comum a empreendedores brasileiros. Anderson e a esposa, Nachila Oliveira, começaram a empresa em uma sala comercial de 57 m2 na cidade de Barretos (SP), atuando apenas com serviços de instalações elétricas mais econômicas e a venda de materiais, como lâmpadas e acessórios de automação.

O objetivo já era trabalhar diretamente com energia solar, porém o casal optou pela comercialização de soluções elétricas e de materiais pelo baixo poder de investimento que tinham na época — os R$ 60 mil de um acordo de demissão.

Anderson e Nachila haviam decidido deixar seus empregos em uma indústria da região para realizar o sonho de empreender. “O setor de energia solar ainda dava os primeiros passos no País e demandava investimento maior”, afirmou Anderson. “Mas sempre deixamos claro para os clientes que nossos serviços eram uma primeira fase do projeto.”

15,8%
da matriz elétrica é solar, atrás apenas da energia hídrica (49,9%), segundo a absolar

1 milhão
empregos gerados no setor

R$ 170 bilhões
investimentos totalizados pelas empresas do segmento

REGULAÇÃO

Como também costuma ser decisivo em trajetórias semelhantes, uma regulação mais modernizada é indispensável no destino do empreendedorismo brasileiro. No caso da EcoPower, foi decisiva a resolução 482 da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), em 2012. Ela estabeleceu os parâmetros para a chamada microgeração e minigeração distribuídas de energia no País. Por meio da resolução, ficou estabelecido que “o consumidor brasileiro pode gerar sua própria energia elétrica a partir de fontes renováveis ou cogeração qualificada, podendo até mesmo fornecer o excedente para a rede de distribuição de sua localidade”. Isso permitiu a criação de um sistema de compensação de créditos aos consumidores.

O mercado era promissor, mas ainda incipiente. Até que a resolução pudesse gerar um ecossistema favorável levaria tempo. Mesmo assim, já no ano seguinte a EcoPower iniciou sua caminhada. O setor crescia aos poucos, mas a empresa de Anderson e Nachila não. Em apenas 12 meses acumularam uma dívida de R$ 400 mil. “Tanto a energia solar quanto o empreendedorismo eram totalmente novos para nós”, afirmou o CEO.

“Quase quebramos, principalmente por causa de vendas não documentadas.” Os problemas iam de diversos casos de inadimplência dos clientes até a cortes de energia na loja. Nesse momento, a saída é a de sempre. Eles venderam terrenos, o carro e a casa para pagar as dívidas e seguir com o empreendimento.

Um ponto chave para atravessar esse momento foi a transparência com fornecedores. “Ninguém gosta de dever, é considerado vergonhoso, ainda mais em uma cidade do interior como a nossa [Barretos]”, disse Anderson. “Escolhemos seguir o caminho da transparência e tivemos parceiros compreensivos.”

Para escapar do fundo do poço, outra política modernizadora foi decisiva. Em 2018 foi instituído o Pronasolar (nome pela qual ficou conhecida a Lei de Política Nacional de Energia Solar Fotovoltaica), que garantiu linhas de crédito facilitadas para energia solar e condições de juros e pagamentos acessíveis.

Um pouco como foi feito para que o agronegócio brasileiro ganhasse a consistência competitiva que conseguiu. O País deu um salto.

Hoje, de acordo com dados da Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica (Absolar), o segmento responde por 15,8% da matriz elétrica nacional, atrás apenas da energia hídrica (49,9%). O ciclo virtuoso tomou impulso. Segundo a entidade:
• os preços estão em queda,
• a geração é recorde,
• mais de 1 milhão de empregos foram gerados,
• os investimentos somaram R$ 170 bilhões,
• os tributos arrecadados pelo setor outros R$ 47 bilhões.

Anderson Oliveira com a esposa, Nachila (Crédito:Divulgação)

“Agora, a estratégia é transformar cada parte da residência ou da empresa a partir de produtos sustentáveis.”
A
nderson Oliveira, CEO e cofundador da EcoPower

REFERÊNCIA

Foi nessa onda de calor que a EcoPower se tornou uma franqueadora e expandiu a atuação do interior paulista para Norte e Nordeste, regiões brasileiras com menos instalações desse tipo de energia até então. “Dessa forma, foi possível crescer rapidamente e ser vista como uma marca referência em energia solar”, afirmou Anderson.

O novo modelo de negócio consistia em, de fato, trabalhar energia solar. As franquias concentram as vendas de instalação de painéis fotovoltaicos em locais pouco explorados pelo mercado e quase sem concorrência, e a operação matriz é responsável pelo operacional. No primeiro semestre de 2018, a empresa registrou aumento de R$ 90 mil para R$ 800 mil no faturamento, com lucro de R$ 100 mil.

“Foi o primeiro ano em que não pagamos apenas as contas”, disse Anderson. Em cinco anos, os saltos foram sempre em dois dígitos altos, até o meio bilhão de reais em receitas previstas para este ano.

A companhia também atua cada vez mais em projetos de expressão, como a implementação de uma usina no Barretos Park Hotel, onde acontece a Festa do Peão (instalada em uma área de 10,5 mil m2, deve gerar redução de 100 toneladas de CO2 por ano), além de parcerias com o grupo CPFL Energia (que levou por exemplo à instalação de placas fotovoltaicas no Hospital de Clínicas da Unicamp, na cidade paulista de Campinas), além de outras instalações semelhantes em hospitais de Barra Bonita, Matão e Nova Odessa, todas cidades do interior paulista.

De acordo com o CEO, a empresa deve implementar um marketplace de produtos que utilizam energia solar já no início de 2024. “Agora, nossa estratégia é investir em tecnologia e transformar cada parte da residência ou empresa a partir de produtos sustentáveis, muito além da placa fotovoltaica.” Anderson e Nachila reconstruíram a jornada. E agora, depois da resiliência, o futuro é sustentável.