Tecnologia

5G: Ericsson aposta em patentes para promover inovação

Pioneira no desenvolvimento da tecnologia 5G, sueca Ericsson amplia debates para fortalecer licenciamento de patentes e propriedade intelectual

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Tecnoogia 5G está em alta com a interconectividade de alta performance com IA generativa, Internet das Coisas e computação de borda (edge computing) (Crédito: istockphoto)

Por Victória Ribeiro

Com uma trajetória de 147 anos e um portfólio que passa pelo desenvolvimento de celulares icônicos dos anos 2000 como o T36 e o Walkman W800i, os primeiros com tecnologia bluetooth, a companhia sueca Ericsson está hoje no epicentro de uma tendência onde tudo que pode ser sem fio será sem fio através do pioneirismo da tecnologia 5G. Apesar dos desafios geopolíticos e da desaceleração macroeconômica em alguns mercados, as assinaturas da rede móvel de quinta geração, ideal para o desenvolvimento de outras tecnologias como internet das coisas (IoT) e inteligência artificial generativa, estão aumentando globalmente.

A previsão é que cheguem a 1,6 bilhão até o final de 2023, segundo a última edição do Mobility Report da Ericsson. Como resposta a esse fluxo, a empresa proeminente na indústria de telecomunicações e responsável também pela criação das redes de segunda à quarta gerações, está focada em ampliar debates e solidificar a base legal para fortalecer a propriedade intelectual. “Discutir patentes é discutir inovação”, afirmou Robert Earle, vice-presidente de Afirmação e Aplicação de Patentes da Ericsson.

De acordo com o executivo, que faz parte do time da companhia sueca há nove anos, a proteção e o fortalecimento dos direitos de propriedade intelectual impulsionam o desenvolvimento de novos negócios. “É mais provável que empresas iniciem novos projetos e produtos quando acreditam que suas criações serão protegidas”, disse Earle.

Além disso, ele afirma que o valor proveniente da concessão colabora com um movimento cíclico ao ser investido em inovação adicional. Com base nisso, a Ericsson tem estabelecido parcerias estratégicas e lucrativas ao longo do caminho. Em agosto deste ano, a empresa anunciou a renovação do acordo de licenciamento cruzado global de patentes com a gigante chinesa Huawei.

Robert Earle, VP da Ericsson (Crédito:Divulgação)

“Falar sobre patentes e propriedade intelectual é o mesmo que falar sobre inovação.”
Robert Earle, VP da Ericsson

O acordo, que cobre patentes essenciais em produtos de infraestrutura de rede e aparelhos de consumo, incluindo redes móveis de terceira, quarta e quinta gerações, representa mais um passo rumo à padronização de tecnologias em telecomunicações e aumenta as expectativas financeiras da empresa sueca, que espera alcançar receita de US$ 1 bilhão através de licenciamentos até o final de 2023. “Estamos confiantes de que as receitas relacionadas ao nosso portfólio de patentes essenciais continuarão a crescer”, afirmou.

BRIGAS & ACORDOS

Com mais de 60 mil patentes concedidas ao longo do tempo, a história da Ericsson inclui licenciamentos firmados com outros grandes players, como Apple e Samsung. A parceria com a companhia americana aconteceu, diga-se de passagem, após longa batalha judicial.

Enquanto a dona do iPhone afirmava que a empresa sueca queria intimidá-la a renovar acordos, a antiga Sony Ericsson dizia que a multinacional norte-americana utilizava sua tecnologia sem permissão.

Para Earle, a principal dificuldade, quando se trata dos licenciamentos, são as relutâncias sobre o pagamento de taxas. “O usuário não licenciado obtém vantagem comercial sobre seus concorrentes, uma vez que consegue atuar com custos mais baixos devido aos não pagamentos”, disse o executivo.

Após anos de tentativas de negociação com empresas que atrasam as tratativas, a única solução, na maioria das vezes, é o litígio. Na opinião de Earle, para equilibrar essa questão, o envolvimento jurídico é necessário.

E nesse caso, o Brasil marca ponto. “O sistema legal brasileiro utiliza liminares ou pagamentos provisórios para desincentivar o ilícito lucrativo. Muitas vezes, esses remédios legais funcionam para possibilitar negociações comerciais concretas e resolver disputas”, disse o executivo.

Mas sempre há surpresas desagradáveis pelo caminho. Um exemplo é o aumento na pressão por mudanças regulatórias por parte, segundo ele, de empresas automobilísticas e de tecnologia europeias e americanas. “Tem muito lobby envolvido”, afirmou. “À primeira vista, as mudanças propostas podem ser percebidas como benefícios, mas infelizmente essa percepção não corresponde à realidade.”

A Ericsson contabiliza 870 smartphones lançados e compatíveis com a quinta geração de rede, sendo 80 deles introduzidos no mercado neste ano (Crédito:Istockphoto)

Na opinião de Earle, a mecânica de implementação das mudanças regulatórias propostas muitas vezes é complexa, inviável e claramente disruptiva para a indústria de telecomunicações.

A melhor forma de evitar o uso indevido de pressões regulatórias, segundo ele, é garantir que todas as partes interessadas tenham voz antes que uma decisão seja tomada. “Decisões baseadas em consenso costumam ser as melhores. É importante nos questionarmos sobre o que motiva alguém a querer consertar algo que não está quebrado”, disse Earle.

Além do pioneirismo das redes móveis, Ericsson também tem história marcada pelo desenvolvimento dos primeiros aparelhos celulares com tecnologia bluetooth (Crédito:Divulgação)

6G: o mundo cyberfísico de 2030

Enquanto o 5G se enquadra como um dos assuntos do momento, principalmente pela possibilidade de interconectividade de alta performance com IA generativa, IoT, computação de borda (edge computing) e outras aplicações, o 6G já vem sendo desenvolvido pela Ericsson.

Com velocidade dezenas de vezes superior à tecnologia 5G, a estimativa é que a nova tecnologia chegue ao público por volta de 2030 para viabilizar possibilidades existentes apenas na ficção científica (até agora), como a internet dos sentidos, os esportes imersivos e a comunicação por hologramas.

Mesmo que a rede móvel de quinta geração ainda esteja distante de uma aplicabilidade total no Brasil, o País teve participação significativa em uma das novidades recentemente anunciadas pela Ericsson.

A sueca patenteou uma solução de autorreparo para antenas de telecomunicações que deve ser usada com as futuras redes 6G. A self-healing, como a tecnologia é chamada, foi desenvolvida pela unidade da fornecedora no Brasil, com apoio de estudantes da Universidade Federal do Pará (UFPA), e tem a capacidade de unir até milhares de microantenas maleáveis por meio de uma fita adesiva.

Para o vice-presidente de Afirmação e Aplicação de Patentes da Ericsson, Robert Earle, o desenvolvimento da tecnologia de sexta geração implica em uma necessidade ainda maior de se discutir o licenciamento de patentes.

“As receitas provenientes da concessão de licenças para o uso de propriedade intelectual são utilizadas para reinvestir em inovação adicional. Por exemplo, mesmo que o 5G esteja em evidência, a Ericsson já está desenvolvendo o 6G”, disse o executivo. “Esse ciclo contínuo de inovação também beneficia o consumidor, uma vez que incentiva as empresas a fornecer a tecnologia de ponta desejada pelo público”.