Empreendedores do Ano 2023

Empreendedora do Ano: Simone Tebet, a mulher que planeja um país mais generoso

Ministra responsável por desenhar o Brasil que queremos mostra que aliar princípios do empreendedorismo na esfera pública é caminho certo para uma gestão mais eficiente

Crédito: Andressa Anholete

Simone Tebet: "Para ser efetivo, o Estado precisa avaliar o impacto de seus gastos" (Crédito: Andressa Anholete)

Empreendedora do Ano: Simone Tebet, Ministra do Planejamento

Por Paula Cristina e Edson Rossi

Simone Tebet é uma mulher versátil. Mas não é só mais uma. Reunindo todos os pré-requisitos que formam o ideal de um bom político no Brasil ­— com uma carreira estável, sem grandes desabonos e bastante exitosa — ela agrega aquela versatilidade feminina capaz de unir austeridade e compaixão, leveza e rigidez, racionalidade e empatia. Talvez por isso coube a ela reestruturar uma face do governo federal que havia sido lateralizada entre 2019 e 2022: o Ministério do Planejamento e Orçamento.

A convite do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Simone assumiu para si o desafio de atender os anseios de um governo social democrata sem deixar de lado um projeto firme de dar sustentabilidade financeira para este País que gasta muito, e muito mal.

Munida de técnicos, estudos e matemática aplicada, a terceira colocada da eleição que levou Lula ao seu terceiro mandato aplica no governo federal a regra número 1 para todo empreendedor que atua na iniciativa privada: a coluna das despesas não pode ser maior que a das receitas. “O empreendedorismo carrega em si elementos muito fortes do que se deseja na esfera pública”, afirmou a ministra à DINHEIRO. “E um deles é, sem dúvida, o planejamento.”

Para Simone, há evidentes pontos de encontro entre as esferas pública e privada.

“O planejamento desenha o melhor traçado para esse caminho público-privado. O empreendedorismo, o pavimenta.”
Simone Tebet

Mas a ministra sabe bem que para ser efetivo, o Estado precisa avaliar o impacto de seus gastos. “Nos últimos anos o Brasil gastou muito, e muito mal. Porque faltou planejamento e, como consequência, não foram estabelecidas prioridades.” Sua visão sobre a gestão pública não é exatamente unanimidade no governo federal. Mas ela nunca a escondeu.

Durante a corrida presidencial do ano passado, na mais polarizada das eleições brasileiras desde a redemocratização, apenas um nome saiu maior do que entrou. O de Simone Tebet. Não pelo seu surpreendente terceiro lugar na disputa, atrás apenas de Lula e Bolsonaro. Nem mesmo por ter batido na casa dos 5 milhões de votos — número recorde nas quatro candidaturas já lançadas pelo MDB (antigo PMDB) em eleições a presidente.

Mas sim por ter sido a voz que jamais buscou o extremismo. O que não significa que não tenha se posicionado. Não mesmo. Apenas 72 horas após o primeiro turno, ela anunciou seu apoio à chapa Lula-Alckmin.

Dois dias depois, os três se encontraram. Ela não se intimidou. “Lula, temos diferenças políticas e econômicas, mas o que está em jogo é maior: o Brasil precisa ser reconstruído [e se tornar] um Brasil generoso e que inclua, em que não fique ninguém para trás“, disse a então senadora.

(Marlene Bergamo)

Três dias após o primeiro turno, Simone se posicinou sobre o voto em lula, mas sem deixar
de dizer o que pensava: “Temos diferenças políticas e econômicas, mas o que está em jogo
é maior: o Brasil”

E esse é seu maior traço. Ser clara em suas posições, mas caminhar pelo consenso e pelo equilíbrio. Uma firmeza que fez Lula rebolar para encontrar espaço em seu governo.

Ela chegou a ser cogitada para o cargo de ministra do Meio Ambiente, mas só aceitaria com o aval (que não houve) de Marina Silva. Claro que sua origem, no meio do agro brasileiro e herdeira política de um quadro de centro-direita — seu pai, Ramez Tebet (1936-2006) foi prefeito de Três Lagoas (MS), governador do Mato Grosso do Sul, ministro de Fernando Henrique Cardoso e senador por dois mandatos consecutivos — não ajudou nessa chegada ao governo Lula III.

Mas Simone tem uma habilidade rara mesmo na sinuosa matriz de políticos brasileiros. Nascida em fevereiro de 1970, em Três Lagoas, formou-se em direito pela Universidade Federal do Rio de Janeiro. Foi professora universitária e elegeu-se deputada estadual, em 2002. Dois anos mais tarde, tornou-se a primeira prefeita de Três Lagoas, reelegendo-se em 2008 com 76% dos votos. Dois anos depois foi eleita vice-governadora e, em 2014, senadora. Votou pelo impeachment de Dilma Rousseff, pela criação do Teto de Gastos e a favor da Reforma Trabalhista, temas intragáveis por dez a cada dez petistas ­— mas que não impediu Lula de tê-la em seus quadros.

DECISIVA

Ao assumir o comando da pasta do Planejamento, Simone mostrou que olhar para a frente, minimizar extremos e maximizar as convergências é seu estilo. “Um país que não se planeja não se desenvolve”, afirmou.

Sabe do que fala, já que acumulou por um período, quando vice-governadora, a Secretaria de Governo e Gestão Estratégica no Mato Grosso do Sul. Uma trajetória que a coloca como ponte entre o atual governo e o mundo produtivo.

“O cobertor [de recursos públicos] é curto. E esse cobertor deixou de proteger, nos últimos tempos, os passageiros do relento.” Ela acredita que o Estado precisa avaliar o impacto de seus gastos.

E tais afirmações definem bem que tipo de mulher Simone é, e quais caminhos mais fáceis ela não escolhe tomar. Bom para o Brasil, já que hoje tal postura é decisiva para trazer a economia de volta ao eixo da tração. E nisso a dobradinha com Fernando Haddad, da Fazenda, é decisiva.

Ministro da Fazenda, Fernando Haddad conversa com Simone: alinhamento dos dois tem sido decisivo para perseguição do déficit zero (Crédito: Gabriela Biló)

Hoje o paredão da racionalidade nos gastos é composto por um trio que, na eleição de 2018, parecia impossível de ser visto no mesmo retrato:
• Geraldo Alckmin, vice-presidente e ministro do MDIC;
• Fernando Haddad (Fazenda);
• e Simone (Planejamento) — além de um apoio bastante relevante de Esther Dweck (Gestão e Inovação de Serviços Públicos).

Mesmo orbitando em diferentes espectros políticos e com divergências sobre condução econômica, hoje, Simone diz entender o que Lula pensou quando lhe entregou tal tarefa. “Quando fui dizer a ele das divergências econômicas, ele simplesmente me ignorou como quem diz: ‘É isso que eu quero porque um presidente democrata não quer apenas os iguais, porque assim que se constrói uma nação soberana, igual, justa para todos’.”

Se a ministra se consagrou como membro atuante da alta cúpula do governo até aqui, ainda terá de testar mais uma de suas habilidades aumentando sua participação nas negociações com o Congresso.

O último grande destaque dela no Legislativo foi durante a CPI da Covid-19, quando ela, apesar de não integrar a comissão, teve papel bastante atuante. “Faltou vacina, faltou comida, faltou remédio, faltou emprego. Faltou vida”, disse ela em um discurso aplaudido por parlamentares durante a investigação.

HORIZONTE

Agora, com a Lei de Diretrizes Orçamentárias sob sua tutela, um projeto com seu DNA será levado a seus pares. E Simone não vai para brincar. “O governo anterior começou sem rumo quando extinguiu o Ministério do Planejamento. Agora, de volta a normalidade, temos estrutura para montar um Orçamento factível, estruturado e responsável”, disse ela ao lado de Haddad no final de setembro.

O texto da LDO, em vias de chegar ao Legislativo, envolve, por exemplo, um aumento de 7,7% no salário mínimo, para R$ 1.421. Ela também manteve a meta de déficit zero no próximo ano. O texto está previsto para ser votado quarta-feira (20) e quinta-feira (21) na Câmara.

“Somos alicerce, base de suporte para todos os ministérios. Isso significa diagnósticos bem elaborados, objetivos bem definidos, metas factíveis, estratégias condizentes com fontes garantidas de financiamento”, disse. Uma aula de como a boa mente empreendedora pode, e deve, ser aplicada na gestão pública.