Empreendedores do Ano 2023

Empreendedores 2023/Finanças: Tarciana Medeiros comanda a revolução no BB

A mais tradicional instituição financeira do País, com mais de 200 anos, está sob a gestão de uma nordestina, preta e lésbica. E o banco nunca cresceu tanto

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Tarciana Medeiros: "Vivemos em um País que ainda carrega um machismo. Vivi isso em diversas fases. Mas temos avançado muito, com trabalho suado" (Crédito: Divulgação)

Finanças: Tarciana Medeiros, Banco do Brasil

Por Jaqueline Mendes

A paraibana Tarciana Medeiros, primeira mulher a comandar o Banco do Brasil em mais de dois séculos de história da instituição, já tem um lugar de destaque garantido na galeria de presidentes na sede do banco, em Brasília. Não só por ser mulher, mas porque também é lésbica, nordestina, negra e defensora das causas LGBT. Mesmo que não seja essa sua função, ela tem simbolizado a revolução pela busca da equidade de gênero, respeito e diversidade no mundo corporativo e no alto escalão do funcionalismo público, predominantemente masculino.

Tudo isso com a chancela do ministro Fernando Haddad e do próprio presidente Lula. “O Banco do Brasil tem 200 anos, e nunca se pensou, nem de longe, em ter uma mulher na presidência”, disse Lula, um ano atrás, ao anunciar a nomeação de Tarciana. “E nós vamos provar que uma mulher pode ser melhor do que muitos homens que já dirigiram o banco.” Bingo. Ela é uma das vencedoras do EMPREENDEDORES 2023, na categoria Finanças.

A fala de Lula, evidentemente, tem peso. Mas os números do BB sob comando de Tarciana falam por si:
• O banco bateu recorde de lucro nos nove primeiros meses do ano. De janeiro a setembro, a instituição contabilizou lucro líquido de R$ 26,1 bilhões, crescimento de 14% em relação ao mesmo período do ano passado.

• As ações (BBAS3) subiram impressionantes 59,3%, no acumulado do ano, até 13 de dezembro.
• Em seu primeiro ano à frente do BB, Tarciana promoveu uma intensa diversificação das receitas e controle dos gastos. O retorno sobre patrimônio líquido (RSPL) chegou a 21,3%, o que representa um índice semelhante ao dos bancos privados.

Não por acaso, em 6 de dezembro de 2023 ela foi eleita uma das mulheres mais poderosas do mundo em ranking divulgado pela Forbes, dos Estados Unidos, e foi a única brasileira indicada.

Tudo isso, na visão de Tarciana, é uma retribuição do Banco do Brasil ao País. “Nossa missão é sermos relevantes na vida dos nossos clientes, em todos os momentos, contribuindo para o desenvolvimento do Brasil, somando esforços para construir as bases econômicas que estão garantindo um País próspero e sustentável”, disse Tarciana à DINHEIRO.

Essa missão, segunda ela, foi encarada como desafio por demonstrar que é, sim, possível aliar uma atuação pública com a atuação comercial e estratégia corporativa. “E isso tem dado muito certo. Temos mostrado que essa nossa forma de agir gera mais do que resultados: gera verdadeiro valor para a sociedade, que percebe que a atuação do Banco do Brasil faz a diferença em cada local”, afirmou.

Funcionária de carreira da instituição há 22 anos, a executiva mantém como desafio a busca por bons resultados e superação dos desafios — algo que conhece muito bem.

Tarciana iniciou a vida profissional como feirante e foi professora, antes de entrar no Banco do Brasil, em março de 2000. Ela é formada em administração e pós-graduada em Administração, Negócios e Marketing e em Liderança, Inovação e Gestão.

Em 2002, assumiu seu primeiro cargo de gestão. Nos dez anos seguintes, atuou nas regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste em agências e superintendências do varejo.

Entre 2013 e 2018, passou pela Superintendência Comercial do BB Seguridade. Durante sua atuação no braço de seguros do grupo, ela desenvolveu modelos estratégicos de indução de vendas, apoiados na coordenação e direcionamento do trabalho das equipes de consultores das empresas da Holding BB Seguros.

Na época, a empresa conseguiu se consolidar como uma das maiores da América Latina no segmento. Em 2018, ao deixar a liderança do BB Seguridade, Tarciana capitaneou os processos de pós-venda a pessoas físicas na diretoria de empréstimos e financiamentos do banco.

EXEMPLO

Além de consolidar papel social do BB em sintonia com o retorno financeiro, Tarciana definiu como missão de transformar o banco em exemplo. “Vivemos em um País que ainda carrega um machismo. Vivi isso em diversas fases da minha vida e isso segue existindo, quando represento o Banco do Brasil em alguns fóruns, por exemplo. Mas temos avançado muito, com trabalho suado, sabe?”, disse Tarciana.

Por isso, o BB lançou novos compromissos públicos em seu planejamento de sustentabilidade. Entre eles, destaque para um avanço na meta de chegar, até 2025, a pelo menos 30% de mulheres em cargos de liderança.

Sob seu comando, o BB tem promovido eventos sobre diversidade, entre eles Conselhos Consultivos, que reúnem representantes do banco e especialistas da sociedade civil para abordar temas sobre:
• raça e etnias,
• gênero,
• gerações,
• LGBTQIAPN+,
• pessoas com deficiência e neurodivergências.

Atualmente, há três mulheres em vice-presidências (Varejo, Negócios Digitais e Corporativa). Pela primeira vez na história, o banco tem no Conselho Diretor 45% de mulheres, 22% de pessoas autodeclaradas negras e dois membros autodeclarados do grupo LGBTQIAPN+.

“Acho que os desafios continuam em nossa sociedade. Mas temos conseguido atuar na vanguarda, puxando pelo exemplo. Isso segue como pilar estratégico em nossa gestão”, afirmou a presidente.