Empreendedores do Ano 2023

Empreendedores 2023/Tecnologia: Marcio Aguiar, da Nvidia, e o avanço da IA

Diretor responsável pela divisão de Enterprise da Nvidia na América Latina, Marcio Aguiar vê a empresa que revolucionou a indústria de jogos se tornar pilar para inteligência artificial generativa e cérebro de tecnologias disruptivas como ChatGPT

Crédito:  Marco Pinto

Marcio Aguiar: "A Nvidia sempre vai estar três, quatro anos à frente do mercado. É isso que nos faz estar onde estamos" (Crédito: Marco Pinto)

Por Tecnologia: Marcio Aguiar,  Nvidia

Por Victória Ribeiro

Era 2016 quando Jensen Huang, CEO da Nvidia, carregava o que parecia uma maleta rumo ao encontro de Elon Musk e Sam Altman, cofundadores da OpenAI. Chamado de ‘supercomputador da IA’, o exemplar avaliado em US$ 129 mil continha oito processadores gráficos interligados, capazes de processar em duas horas o que um chip convencional levaria seis dias. Huang sabia do potencial do servidor recém-criado por sua equipe, mas talvez não imaginasse que, a partir dali, a empresa reconhecida pela liderança praticamente intransponível na produção de chips que são motores para videogames ultrarrealistas como Call of Duty e Counter-Strike, se tornaria pilar para a inteligência artificial generativa e ‘cérebro’ de tecnologias disruptivas como o ChatGPT, alcançando valor de mercado de US$ 1 trilhão, juntando-se a um grupo seleto de empresas como Apple, Microsoft, Google/Alphabet e Amazon.

Imaginar as possibilidades proporcionadas pelas unidades de processamento gráfico não se tornou uma tarefa complexa apenas para Huang, mas também para o carioca Marcio Aguiar, diretor responsável pela divisão de Enterprise da Nvidia para América Latina.

Administrador por formação, a trajetória de Aguiar sempre esteve alinhada à tecnologia. Ele passou por empresas como a americana Kinko’s e a brasileira Absolute Technologies, o que lhe rendeu um histórico paralelo aos conceitos de inovação e a aptidão necessária para, em 2010, se tornar um dos primeiros funcionários da divisão Enterprise, área que abrange verticais como IA, carros autônomos e data centers.

“Junto ao time global, desenhamos toda a estratégia para irmos além da revolução da indústria de jogos”, afirmou. Aguiar foi escolhido um dos EMPREENDEDORES 2023, na categoria Tecnologia.

Mesmo com um percurso atento às transformações, ele afirma que as interações com máquinas, com tempo de resposta instantâneo, talvez estivessem muito ligadas ao campo da ficção científica. Ter os hardwares desenvolvidos pela Nvidia como possibilitadores dessa realidade nada ficcional, então, nem se fale.

“Estamos vivendo algo jamais imaginado por mim e por qualquer pessoa da Nvidia, inclusive nosso CEO.”
Marcio Aguiar, diretor na Nvidia Latam

Através da transição de plataforma da indústria, de computação de uso geral para computação acelerada e IA generativa, a empresa não só entrou para o clube de US$ 1 trilhão, como tem registrado recordes em seu balanço financeiro.

No terceiro trimestre de 2023, a gigante de tecnologia alcançou lucro líquido de US$ 9,2 bilhões, um salto superior a 13 vezes em relação aos US$ 680 milhões do ano passado. Na mesma base de comparação, a receita líquida subiu 206%, para US$ 18,1 bilhões. “Hoje, estão nos vendo como o principal player, o que amplia nossa responsabilidade. O momento é de entusiasmo, mas exige pé no chão.”

ENGATINHANDO

Embora outras empresas também produzam chips de IA, a Nvidia responde por mais de 70% desse mercado e detém uma posição ainda maior no treinamento de modelos de IA generativa, segundo pesquisa da empresa Omdia. Enquanto os números globais surpreendem, os investimentos brasileiros nas famosas GPUs ainda são tímidos.

“Estamos engatinhando”, disse Aguiar. Uma das explicações, na visão do executivo, é que o Brasil vivencia a morosidade dos processos licitatórios, o que dificulta a adoção de novas tecnologias pelas instâncias públicas. E quando o assunto são as empresas privadas, as altas taxas e impostos são os fatores de dificuldade.

“O que eu vejo são grandes corporações privadas fazendo investimento nas nossas tecnologias, mas não as trazendo para o Brasil”, afirmou. Através de reuniões com órgãos do governo, a estratégia, segundo ele, tem sido mostrar que as infraestruturas de software não são orientadas para entretenimento, mas para dar maior capacitação à indústria brasileira.

“Hardwares para processar dados de IA deveriam ter alíquota zero, porque representam desenvolvimento interno”, disse Aguiar.

No portfólio de clientes há desde gigantes, como Petrobras, a startups, como os bancos digitais. “A gente tem tido demandas muito boas por parte dessas indústrias”, disse. Apesar dos frutos que vêm sendo colhidos, ele diz preferir evitar as projeções a longo prazo em razão das constantes atualizações tecnológicas e das instabilidades geopolíticas.

“Vislumbrar um futuro para um negócio global, em meio a situações como guerras e eleições, não é uma tarefa fácil. Quem imaginava que teríamos restrições entre Estados Unidos e China, mercados essenciais para o tech?”

Mesmo assim, o executivo reforça a expectativa da corporação: avançar para os US$ 20 bilhões no trimestre. “A Nvidia sempre vai estar três, quatro anos à frente do mercado. É isso que nos faz estar onde estamos.” E é isso que chamamos de visão empreendedora.