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Os bons ventos que levam até o hotel Casana

Sem experiência anterior em hospitalidade, uma modelo cearense e um empresário sueco criaram um refúgio de altíssimo luxo na Praia do Preá, o paraíso do kitesurf no Brasil. Deu tão certo que eles compraram uma ilha

Crédito: Rodrigo Azevedo

Casana: lugar paradisíaco, serviço impecável e atrações difíceis de serem igualadas (Crédito: Rodrigo Azevedo)

Por Celso Masson

O desejo de praticar kitesurf de forma intensa na região da costa brasileira mais perfeita para o esporte levou o casal Natália e Jimmy Furland às areias da Praia do Preá, vizinha ao Parque Nacional de Jericoacora (CE), até então frequentada basicamente por moradores locais e por turistas estrangeiros. Ela, nascida em Fortaleza, havia viajado o mundo todo trabalhando como modelo antes de se formar em artes plásticas em Londres, onde vive até hoje. Ele, sueco, construiu uma carreira bem-sucedida na área de tecnologia e investindo em startups. Os dois se conheceram no revéillon de 2012. Casaram em 2017 e, um ano depois, deram início ao sonho de construir um hotel que proporcionasse as melhores experiências possíveis a cada hóspede.

Em um terreno de 10 mil m2, construíram apenas sete chalés, dois deles com piscina privativa. Segundo Natália, o conceito de hospitalidade que os dois buscaram implementar no Casana se baseia em quatro pilares:
• gastronomia,
• serviço,
• infraestrutura,
• kitesurf.

“Ele é a realização do nosso sonho de oferecer uma experiência completa, pensada nos mínimos detalhes, com base em tudo de mais incrível que pudemos experienciar durante nossas viagens ao redor do mundo”, afirmou à DINHEIRO.

Natália e Jimmy Furland se inspiraram em seus hotéis e resorts favoritos para criar a melhor experiência de hospedagem possível baseada em quatro pilares: atendimento, infraestrutura, gastronomia e kitesurf (Crédito:Divulgação)

Com um histórico profissional na área de moda, Natália jamais havia empreendido no ramo de hotelaria. Nem o marido. A falta de experiência na gestão desse tipo de negócio foi amplamente compensada pelo conhecimento da dupla como hóspedes.

Ela já visitou quase 50 países. Ele, 110. Juntos, souberam criar um oásis de conforto e bem-estar que se compara aos mais badalados do mundo.

Não há exagero em comparar o nível do serviço ao de hotéis de redes como Four Seasons e a infraestrutura à de resorts como Anantara, de altíssimo luxo. “Temos 85 colaboradores, sete para cada hóspede, quando a média dos hotéis de high luxury é dois para um”, disse Natália.

O staff é formado majoritariamente por moradores da região, mas reúne profissionais com passagens por joias da hotelaria nacional, caso do Hotel das Cataratas, pertencente ao conglomerado de luxo LVMH, e do resort Ponta dos Ganchos, eleito o melhor do mundo em 2021 pelo Leading Hotels of the World na categoria Comprometimento com o hóspede.

(Rodrigo Azevedo)
(Rodrigo Azevedo)

SALA DE REUNIÕES

Fiéis à assinatura ‘Seu Lar na Praia’, adotada pelo Casana, todos os funcionários são treinados para tornar a hospedagem memorável. Isso é perceptível em cada pequeno gesto. A sinalização para arrumar (ou não) o quarto é feita por meio de um colar de conchas. Quando ele é pendurado do lado de fora da porta significa “não perturbe”.

Mas não há rigor algum quanto a isso. A qualquer momento, mensagens de WhatsApp são enviadas para esclarecer eventuais mudanças na agenda e informar o cardápio da próxima refeição. O uso da rede é possível graças ao investimento do casal na infraestrutura.

“Quando começamos esse projeto ainda não havia nem o aeroporto de Jericoacoara e nem uma rede de fibra óptica para garantir internet de alta velocidade”, disse Natália. Embora seja um local pensado para relaxar, o hotel tem uma sala de reuniões e de trabalho mobiliada e equipada como as que se vê em grandes empresas — com a diferença de que suas as paredes de vidro do chão ao teto dão vista para a praia e para os onipresentes kitesurfistas.

Poder conciliar as duas atividades é não apenas um privilégio como uma realidade cada vez mais presente nos modelos de trabalho híbridos que ganharam força desde a pandemia.

Se a fibra óptica era um pré-requisito para a proposta de hospedagem imaginada por Natália e Jimmy, o mesmo se pode dizer das demais comodidades.

Um exemplo é o material escolhido para o piso de todo o hotel. Ele mantém uma temperatura agradável mesmo sob o sol quente, o que permite caminhar descalço. Plantada sobre a areia, a grama é permanentemente cuidada por um jardineiro robô. “Embora tivéssemos consciência das limitações de estarmos em uma cidade pequena do litoral do Ceará, queríamos dar às pessoas o mesmo conforto que encontram em uma metrópole como Londres ou São Paulo”, afirmou Natália.

Essa ideia pautou desde as instalações, caso da automatização da abertura de cortinas, iluminação e ar-condicionado, até os amenities, da marca Clarins. O enxoval, impecável, parece que nunca foi usado por outros hóspedes. “Costumamos ouvir com frequência de quem se hospeda conosco que ‘só o Casana é o Casana’, e é isso que queremos: que as pessoas saiam surpreendidas daqui”, disse Natália.

E boas surpresas não faltam. O spa é uma delas. Em uma sala aconchegante, a meia-luz e com um excelente play list no volume ideal, macas de última geração, articuladas e climatizadas, acolhem o corpo com um conforto muito acima da média.

O menu de tratamentos (com preços que chegam a R$ 780) foi elaborado com a consultoria de Renata França. As terapeutas são excelentes e fazem valer cada centavo do investimento. Mas é na cozinha que o nível de sofisticação atingiu o ápice. Tanto o espaço quanto os equipamentos parecem superdimensionados para um hotel com apenas sete suítes.

Porém, tudo foi pensado não apenas para preparar cada refeição e sim para a variedade do que é servido ao longo do ano. Segundo o chef de cozinha André Wunderlich, ex-Tuju e Dinner in the Sky, como o cardápio muda diariamente, e são oferecidas três opções de entrada e três de prato principal, além de duas sobremesas e uma seleção de sorbets e gelatos a cada almoço e jantar, cada centímetro e cada utensílio acaba sendo utilizado.

Ter tantos recursos à disposição permite que ele se supere a cada preparo. A ênfase, evidentemente, é nos peixes e frutos do mar obtidos junto a fornecedores da região. Mesmo assim, há espaço para iguarias como o camarão carabineiro, encontrado apenas em águas profundas e geladas — no Brasil, ele vive apenas no litoral catarinense.

(Divulgação)
Com passagens pelo Tuju e Dinner in the Sky, o chef André Wunderlich altera o cardápio todos os dias, com ênfase em peixes locais e frutos do mar (Crédito:Stephan Eilert)

“Queríamos dar às pessoas o mesmo conforto que encontram em uma metrópole como Londres ou São Paulo.”
Natália Furland

Posicionado entre os hotéis mais caros do Brasil, com diárias que partem de R$ 6 mil, o Hotel Casana se tornou um destino de celebridades e milionários. Alguns vêm do exterior em seus próprios jatos particulares. Outros reservam todas as suítes para reunir amigos e familiares.

E há aqueles que queiram comprar o hotel. “Recebemos muitas propostas. Algumas são tentadoras. Felizmente, não estamos precisando do dinheiro, por isso não pretendemos vender e nem ter sócios”, disse Natália.

Sem conseguir comprar o Casana, alguns frequentadores decidiram investir na construção de algo similar na mesma praia. É o caso do Carnaúba, projeto de alto padrão que tem como sócios executivos do mercado financeiro, a maioria ligada à XP Inc.

Para que os hóspedes possam conciliar lazer e trabalho, uma sala de reuniões foi construída com paredes de vidro (Crédito:Divulgação)

“Sentimos uma pontinha de culpa por termos dado origem, mesmo sem querer, a uma procura por terrenos para empreendimentos no Preá”, afirmou Natália.

O preço dos terrenos quadruplicou na região em dois anos e é difícil prever o que será da praia no futuro. Enquanto observa a valorização do local que escolheu para fazer seu hotel boutique, o casal Furland já adquiriu outra área na costa nordestina: a Ilha do Caju, no Maranhão.

“É uma área duas vezes o tamanho da ilha de Manhattan. Compramos para preservar e para deixar nosso legado”, disse Natália. Segundo ela, a ideia é fazer um novo Casana, que já se tornou uma grife internacional, mas desta vez com quinto pilar, holístico. “Será uma conexão plena com a natureza.”