Do metaverso à escassez de chips: 9 tendências em tecnologia para 2024
Estudo da Deloitte traz as tendências do mundo digital para 2024. Elas apontam que a ia generativa ainda estará sob os holofotes, mas traz avisos tanto para céticos quanto para entusiastas
Por Victória Ribeiro
Por trás do ChatGPT e das técnicas polêmicas de deepfake, a inteligência artificial foi responsável por um frisson não apenas generativo, mas também generalizado em 2023. Conforme o entusiasmo inicial vai se dissipando, a tecnologia se aproxima dos softwares empresariais, do pragmatismo da regulamentação, do aquecimento do mercado de chips e se esbarra com as métricas de sustentabilidade. É o que aponta o novo relatório de tendências tecnológicas da Deloitte, empresa global que há 15 anos avalia o que está em alta e no horizonte da tecnologia empresarial.
Apesar das possibilidades, a companhia alerta sobre a importância da qualidade dos dados e o potencial catastrófico que pequenos vieses podem gerar. “Nós, geeks, geralmente somos conscientes do velho ditado ‘entra lixo, sai lixo’. Mas, daqui para a frente, a experiência estará mais para ‘entra lixo, sai lixo ao quadrado’”, disse Mike Bechtel, futurista-chefe da Deloitte.
Além disso, o especialista afirma que o foco excessivo na IA pode estar ofuscando outras questões importantes, como a cibersegurança. “Sim, a IA é mais importante do que nunca, mas isso não significa que o resto deixou de repente de ser importante”, disse Bechtel. Com essa ressalva, as tendências na tecnologia para 2024 ainda se concentram fortemente em IA, mas trazem alguns avisos tanto para os céticos quanto para os entusiastas.
1 A meta do metaverso
Apesar de já terem estado sob os holofotes, essa tecnologia pouco correspondeu às expectativas. Mark Zuckerberg, grande entusiasta do metaverso, que o diga. Para a alegria do CEO da Meta, ela deve prosperar em 2024. De acordo com especialistas da Deloitte, a velocidade de rede e de processamento aumentou consideravelmente, assim como a vida útil da bateria dos dispositivos, possibilitando o avanço da realidade virtual (RV) e da aumentada (RA), que se tornarão partes mais críticas do ambiente de trabalho nos próximos anos. À medida que saem da categoria de ‘brinquedo do consumidor’ para ferramenta empresarial, as tecnologias devem ganhar destaque em aplicações industriais, como simulações espaciais e instruções de trabalho. A receita impulsionada pelo metaverso industrial está projetada para atingir quase US$ 100 bilhões até 2030.
2 IA generativa avança no corporativo
Conforme o entusiasmo inicial com a inteligência artificial generativa vai se dissipando, as dúvidas sobre possíveis aplicações da tecnologia vão surgindo. A inteligência artificial já compõe a funcionalidade de muitas empresas, mas será que a generativa também vai ser incorporada no software empresarial? Que impacto essa tecnologia vai proporcionar para as receitas da indústria de serviço computacional? De acordo com a avaliação dos especialistas da Deloitte, para a maioria das empresas a “porta de entrada para a IA generativa” provavelmente será por meio de três categorias: conjuntos de softwares de produtividade empresarial, ferramentas de software empresarial (por exemplo, soluções de bancos de dados e análise) e ferramentas de engenharia, design e desenvolvimento de softwares. Esse movimento, segundo a companhia, deve injetar US$ 10 bilhões até o final de 2024 nas receitas das indústrias responsáveis por esses serviços.
3 Semicondutor: bons ventos a caminho
Saindo de uma movimentação quase nula em 2022, o mercado de chips especializados em inteligência artificial generativa deve movimentar volume superior a US$ 50 bilhões em 2024, representando 11% do mercado geral de chips, cuja previsão é de US$ 576 bilhões. Os valores sugerem cenários positivos, mas há aqueles que temem um obstáculo: a escassez de chips. A demanda por hardware de IA está às alturas (basta olhar para o preço das ações da Nvidia), mas os fabricantes estão lutando para acompanhar. É um Jogos Vorazes de chips da vida real, e quem fisgar a última GPU pode ser o próximo titã. Numa perspectiva confiante, os chips de IA representariam, de acordo com a Deloitte, grande parte do mercado de semicondutores, e um vento favorável necessário, dada à demanda lenta prevista de produtos tradicionais, como smartphones, PCs e chips de data centers mais antigos.
5 Agentes maliciosos
Em 2022, o período eleitoral brasileiro ficou marcado pela manipulação da imagem e voz da jornalista Renata Vasconcellos, que anunciava os resultados de uma falsa pesquisa de intenção de votos. À medida que novas tecnologias se integram a negócios e aos interesses econômicos e políticos, criminosos criam medidas mais sofisticadas de ataques. Segundo a Deloitte, a maioria das pessoas diz que pode distinguir um conteúdo real de um gerado por IA, mas outros 20% não têm certeza. No entanto, para a companhia, o primeiro grupo provavelmente está sendo excessivamente confiante. Ben Colman, CEO da Reality Defender, afirma que ser capaz de identificar conteúdo prejudicial e responder a ele é crucial para empresas. “Uma vez que algo se torna viral, é tarde demais”, disse Colman.
6 Cadê o chip que estava aqui
Não é possível fabricar determinados chips, motores, baterias ou uma série de outras tecnologias sem materiais decisivos. A Deloitte prevê que várias regiões do mundo ficarão sem alguns deles já em 2024, impactando fabricantes de chips. “Poderemos ver a escassez de elementos de terras raras para ímãs em motores de carros elétricos e muito mais, bem como de lítio e cobalto para baterias”, afirmou a consultoria em seu estudo. Entre as possíveis formas de driblar o problema, segundo a Deloitte, estão reciclagem de lixo eletrônico (globalmente, a indústria eletrônica joga fora US$ 50 bilhões em elementos valiosos) e redes de fornecimento digital (as DSNs podem antecipar e planejar a insuficiência de matérias-primas).
7 Soluções para ampliar o ESG
Conforme prevê a Deloitte, as vendas de soluções de software que ajudam empresas a monitorar e reportar métricas de ESG podem ultrapassar US$ 1 bilhão. O volume deve ser uma crescente, acompanhando o avanço de regulamentações da União Europeia, dos Estados Unidos e também de Ásia, Austrália e Reino Unido. Um mercado em alta conforme o número de investimentos que exigem divulgações ESG aumentam.
8 O céu (não) é o limite
Este foi um ano transformador para o ambiente sideral, com Starlinks, de Elon Musk, ganhando espaço (literalmente) e a ISRO da Índia colocando o Chandrayaan 3 no Sul da Lua. O espaço já não é só para astronautas, mas uma nova área para comércio. E a próxima aposta é libertar a conectividade da geografia e fornecer cobertura ininterrupta a dispositivos móveis em qualquer lugar do planeta. A Deloitte prevê que mais de 200 milhões de smartphones com potencial de se conectar a serviços de satélite serão vendidos em 2024. Espera-se que esses celulares contenham cerca de US$ 2 bilhões em chips especiais.
9 Nas nuvens
Em 2024, o mundo deve gerar 149 zettabytes em dados. Segundo estudo de tendências da Deloitte, “se cada byte fosse um grão de areia, haveria o suficiente para encher todas as praias do planeta quase 20 mil vezes”. Nesse sentido, o sistema e a indústria de nuvem se tornaram fundamentais. E à medida que o volume, o valor e a sensibilidade dos dados armazenados aumentam, a ‘soberania da nuvem’ (princípio que defende a necessidade de os dados armazenados no cloud estarem sujeitos às leis do país em que residem fisicamente) torna-se foco importante para tomadores de decisões. Segundo a Deloitte, a previsão é que soluções desenvolvidas para atender a esses requisitos devem ultrapassar US$ 41 bilhões em 2024.