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Economia e felicidade andam juntas?

Os ensinamentos (e o necessário resgate) de Richard Easterlin

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Vitoria Saddi: "Ensinamentos de Richard Easterlin, um dos maiores especialistas em Happiness Economics no mundo, continuam fundamentais" (Crédito: Divulgação)

Por Vitoria Saddi

Durante meu PhD na University of Southern California (USC) tive a oportunidade de ter sido monitora (teaching assistant) em cursos da graduação de um dos maiores especialistas em Happiness Economics no mundo, Richard Easterlin. Seus ensinamentos foram, e continuam sendo, fundamentais para mim. Easterlin está próximo de completar 100 anos e em 2021 lançou seu último livro sobre happiness. Neste período de festas achei que caberia abordar felicidade e economia e, assim, sintetizo suas opiniões mais importantes expressas nesta obra mais recente, An Economist’s Lessons on Happiness.

Easterlin explica que economia é sobre bem-estar. No século 19, quando a teoria econômica foi criada, a relevância de happiness não era um ponto. Happiness estava no centro da nova disciplina. E o bem-estar das pessoas era a preocupação primordial da nova ciência. Economistas da escola clássica como David Ricardo (1772-1823), James Mill (1773-1836), seu filho primogênito, John Stuart Mill (1806-1873), e Jeremy Bentham (1748-1832) mostraram que as ações estão corretas quando promovem felicidade. E erradas quando produzem o inverso.

O grande desvio de rota ocorreu no início do século 20. Happiness foi descartada sumariamente, e levou junto o ser humano. O foco prioritário passou a ser a produção, a distribuição e o consumo de bens. As pessoas passaram a ser reduzidas a ‘fatores de produção’. O bem-estar, se mencionado, era simplesmente assumido com a oferta per capita de bens. Foi assim até o começo deste milênio, quando emergiu a Economia da Felicidade (The Economics of Happiness), com métricas e medidas de felicidade.

O mais recente livro de Easterlin é escrito como uma série de perguntas e respostas e sintetiza um dos cursos que ele ainda oferece a alunos da graduação. O livro tem 16 capítulos curtos agrupados em quatro partes. A Parte 1 concentra-se na pergunta “Como posso aumentar minha felicidade?” A Parte 2 aborda a questão “O governo pode aumentar a felicidade das pessoas? E, se assim for, deveria tentar aumentar a felicidade?” A Parte 3 aborda uma série de questões auxiliares relacionadas à felicidade, enquanto a Parte 4 coloca o tópico em um contexto histórico.Há duas grandes mensagens no livro. Uma abrange o estudo da economia; a outra diz respeito aos principais determinantes da felicidade para as pessoas. A primeira mensagem central é que a economia é — ou deveria ser — sobre “as pessoas e o seu bem-estar”.

De modo análogo a Bentham, Mill, Francis Y. Edgeworth (1845-1926) e outros economistas clássicos, a economia de Easterlin trata a “utilidade” das pessoas, o seu prazer e a sua dor. Ao realizar análises sobre o tema, é legítimo confiar na medida subjetiva de qualquer pessoa sobre seu próprio bem-estar. Essa abordagem contrasta com o que foi a economia ao longo do século 20, em que se concentrava na tomada de decisões das pessoas com base nas escolhas observadas (suas preferências). A segunda mensagem central do livro é que a felicidade das pessoas é determinada por três principais fatores: preocupações econômicas, circunstâncias familiares e saúde. Easterlin mostra que eles são fundamentais em qualquer cultura e país. É um insight importante quando consideramos o bem-estar em face às políticas públicas, tanto entre países como dentro de sociedades multiculturais.

Easterlin enfatiza as comparações inter e intrapessoal. E criou o chamado Easterlin Paradox — pelo qual explica que rendimentos elevados têm correlação positiva com felicidade, mas, a longo prazo, tal correlação não é mantida. Além disso, mostrou que a média do nível de felicidade reportada não acompanhava estritamente o aumento do rendimento nacional per capita, pelo menos para países com rendimentos suficientes para satisfazer necessidades básicas. Da mesma forma, embora o rendimento per capita tenha aumentado constantemente nos Estados Unidos entre 1946 e 1970, a média da felicidade reportada não apresentou nenhuma tendência de longo prazo e declinou entre 1960 e 1970.

Outro aspecto interessante é a discussão do psicólogo Hadley Cantril (1906-1969) e a sua Escala, composta pela figura de uma escada de dez degraus (com 11 números, de zero a dez). A obra é rica em exemplos, e cada leitor irá tirar suas próprias conclusões. O livro de Easterlin é o presente ideal para todos que querem entender um pouco mais a nova área e saber como e por que Richard Easterlin teve uma vida dedicada a fundar e expandir esse novo ramo da economia. Que todos sejamos mais felizes em 2024!

*VITORIA SADDI é estrategista da SM Futures. Dirigiu a mesa de derivativos do JP Morgan e foi economista-chefe do Roubini Global Economics, Citibank, Salomon Brothers e Queluz Asset, em Londres, Nova York e São Paulo. Também foi professora na California State University, na University of Southern California e no Insper. É PhD em economia pela University of Southern California.