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A revolução da BYB no Brasil

Reconhecida por suas inovações no setor automotivo, a greentech chinesa comemora recordes de vendas de seus carros elétricos e híbridos, lança laboratório pioneiro para tornar o Brasil autossuficiente no uso do silício na energia solar e anuncia plano de estar entre as dez maiores montadoras do País já em 2024

Crédito: Divulgação

De módulos fotovoltaicos a carros e ônibus elétricos, a greentech chinesa que tem Stella Li como VP global, atua em toda a cadeia de soluções para a mobilidade. A operação no Brasil tem como chairman o ex-ministro Alexandre Baldy (Crédito: Divulgação)

Por Celso Masson

Reduzir em 1 grau centígrado a temperatura do planeta Terra. Esse é o sonho de muita gente que se dedica a encontrar soluções para o clima que garantam um futuro sustentável às próximas gerações. No caso da greentech chinesa BYD, não se trata apenas de um sonho. É um compromisso. Talvez o mais significativo dentre todos que impulsionam o desenvolvimento das novas tecnologias às quais a empresa se dedica desde a sua fundação, em 1995, na cidade de Shenzhen, no sul da China. Seu propósito: alavancar inovações para uma vida melhor. Não por acaso, a BYD incorporou ao próprio nome uma provocação. Build Your Dreams. Em tradução livre, construa seus sonhos.

Até agora, a capacidade de transformar sonhos em realidade tem sido um dos motores do sucesso da companhia criada pelo químico chinês Wang Chuanfu quando tinha apenas 29 anos. Inicialmente, seu objetivo era fabricar baterias para equipamentos eletrônicos. Com o tempo, as atividades se diversificaram, passando a abranger também os setores automotivo, de energia renovável e transporte ferroviário.

Sempre com a premissa de que as grandes oportunidades estão na transição energética para uma economia de baixo carbono. Hoje, com mais de 30 parques industriais em seis continentes, a empresa vem concentrando no Brasil seus investimentos mais significativos.

Apenas para o complexo industrial de Camaçari, na Bahia, onde irá aproveitar as plantas desocupadas pela Ford após um acordo com o governo estadual, a BYD anunciou aportes de R$ 3 bilhões.

O valor se justifica não apenas pela expectativa de transformar a região em um Vale do Silício brasileiro como também pelos resultados que a BYD tem obtido em sua operação desde que passou a importar os carros certos para conquistar o consumidor local.

“Nosso objetivo é mudar o status quo para tornar acessível o carro elétrico à população brasileira.”
Tyler Li, presidente da BYB Brasil

Dez anos depois de ter escolhido a cidade de Campinas, no interior paulista, para instalar uma fábrica dedicada à produção de chassis para ônibus elétricos, a BYD se tornou sinônimo de carro elétrico acessível.

O modelo Dolphin, lançado pelo atraente preço de R$ 149,9 mil, é um fenômeno absoluto de vendas e de reconhecimento. Com mais de 5 mil unidades comercializadas desde o lançamento, ele já supera a soma de todos os carros elétricos emplacados no mesmo período no mercado brasileiro.

Para o presidente da BYD do Brasil, Tyler Li, “o Dolphin é um game changer”. Segundo ele, a montadora inovou ao oferecer um carro “completo, eficiente, confortável, com autonomia e design”.

Adicionalmente a essas qualidades, ele não gera gases tóxicos e nem poluição sonora. Por fim, o preço competitivo fez toda a indústria se movimentar e rever suas políticas de preços.

Houve casos em que os descontos da concorrência chegaram a R$ 100 mil. Isso ocorreu até em modelos elétricos que eram oferecidos na faixa de R$ 250 mil e passaram a ser considerados muito caros depois da chegada do Dolphin. “Esse é o nosso objetivo: mudar o status quo para tornar acessível o carro elétrico para a população brasileira”, afirmou.

Interior do BYD Seal, uma das apostas da marca para disputar o segmento premium com montadoras europeias. Até o fim do ano, quem comprar os modelos Tan ou Han (ambos acima de R$ 520 mil), levará para casa um kit de energia solar para carregamento doméstico (Crédito:Divulgação)

RECONHECIMENTO

Para a vice-presidente global e presidente da BYD Americas, Stella Li, tão importante quanto o sucesso instantâneo de vendas do modelo é a chancela da mídia especializada. Entre novembro e dezembro, o BYD Dolphin recebeu dez prêmios no Brasil, de diferentes veículos de comunicação, incluindo Compra do Ano 2024 da revista Motor Show, publicada pela Editora Três, também proprietária da DINHEIRO. A categoria na qual ele se sagrou campeão foi de carros elétricos até R$ 200 mil.

Mas o Dolphin não foi o único modelo lançado pela BYD a encantar os jornalistas. A montadora recebeu um total de 17 prêmios no segmento automotivo em 2023. Foi a primeira vez que uma companhia chinesa obteve tanto reconhecimento por parte da imprensa. “Isso comprova que oferecemos um produto confiável, cujo apelo de compra vai muito além do preço”, afirmou a VP global. “Queremos que os consumidores tenham carros de qualidade, com design e tecnologia de ponta, pagando menos do que estão habituados por isso. Queremos clientes felizes.”

Stella Li falou à DINHEIRO durante o lançamento do primeiro laboratório de pesquisa e desenvolvimento da América Latina voltado para o aproveitamento do minério de silício em módulos fotovoltaicos. O evento, na sexta-feira (15), em Campinas, também serviu para confirmar o plano da BYD de fabricar baterias automotivas na mesma planta.

Para ela, essa perspectiva se encaixa na estratégia de baratear os carros que serão feitos pela montadora no Brasil e também nos esforços de reduzir o custo de manutenção para quem adquire um BYD.

Em sua mais recente visita ao País, a executiva eleita pela revista Time entre 100 líderes que impulsionam ações climáticas reais nos negócios em 2023 dedicou boa parte de seu tempo a visitar revendedores da BYD no País. “Minha intenção com essas visitas era compreender melhor o mercado brasileiro e também reforçar os valores da marca junto aos dealers”, afirmou. “Queremos deixar claro que estamos no Brasil para uma jornada de longo prazo e não para uma aventura passageira.”

A marca tem hoje 100 concessionárias autorizadas, pertencentes a 20 grupos empresariais distintos do setor de veículos. E está disposta a comprovar não apenas que chegou para ficar. “O Brasil é nosso principal investimento fora da China”.

Embora não revele o valor total do investimento que pretende fazer no País nos próximos anos, a presidente da empresa para as Américas disse que o valor será ajustado de acordo com a necessidade. “Já estamos contratando fornecedores de autopeças e colaboradores para atuar em Camaçari”, disse a VP, referindo-se ao complexo que empregará 10 mil pessoas para produzir carros nas instalações deixadas pela Ford.

Segundo o chairman da BYD no Brasil, Alexandre Baldy, a meta para 2024 é estar no top ten do mercado automotivo nacional. Hoje, está na 12ª posição. “É um mercado novo, no qual a gente vai ter que ensinar para as pessoas que existe um novo modelo de dirigir, com a experiência de carregar o seu carro dentro de casa”, disse Baldy. Além dos recordes do Dolphin, a BYD lidera o segmento de híbridos plug-in com o Song Plus, apelidado de pesadelo dos frentistas por rodar mais de 1 mil quilômetros com o tanque cheio.

“O Brasil é nosso principal investimento fora da China”.
Stella Li, vice-presidente global e presidente da BYD Americas

E a BYD quer vender mais. Uma arrojada campanha foi lançada este mês para impulsionar seus modelos mais caros no Brasil — o luxuoso sedã Han (vendido a partir de R$ 539.990) e espaçoso SUV Tan (R$ 529.890). Até o dia 31, quem comprar qualquer um deles na rede de concessionárias da marca receberá não um kit de recarga mas um painel solar da BYD Energy totalmente grátis, que poderá ser instalado na propriedade de sua escolha.

Ou seja, quem fizer a compra não irá pagar mais nada para carregar a bateria do carro. É algo que nenhuma montadora pode oferecer, a menos que decida comprar módulos fotovoltaicos para dar de brinde — provavelmente da própria BYD, que já produziu 2,3 milhões deles no Brasil.

Mais que o valor comercial do kit de painel solar em si, a campanha tem o objetivo de mostrar ao consumidor que a BYD opera em todo o ecossistema da energia limpa. Afinal, bem antes de fabricar carros ela já produzia placas fotovoltaicas. E baterias.

UNIVERSIDADES

Embora tenha origem na China, boa parte do desenvolvimento tecnológico da BYD no segmento de energia solar tem ocorrido no Brasil por meio de parceria com universidades públicas. Apenas a Unicamp já recebeu investimentos diretos de R$ 11 milhões para pesquisa no único projeto do Brasil na área com laboratório credenciado pelo Inmetro.

Por intermédio do Programa de Apoio ao Desenvolvimento Tecnológico da Indústria de Semicondutores (Padis), a BYD apoia a pesquisa de módulos fotovoltaicos também junto à Universidade Federal de Santa Catarina, onde a empresa participou da construção do primeiro laboratório com total integração fotovoltaica do tipo BIPV (Building-Integrated Photovoltaic System).

Segundo Stella Li, o Brasil é uma das melhores regiões para uso de painéis solares do mundo. Tanto que a própria empresa já aproveita o recurso para gerar parte da energia que consome em suas fábricas no interior paulista:
• uma dedicada à produção de ônibus e caminhões elétricos,

• outra onde são feitos módulos fotovoltaicos.

Em 2020, a empresa investiu R$ 7 milhões em uma usina solar que também funciona como laboratório de pesquisa.

A ligação da BYD com o mundo da ciência no Brasil ganhou um reforço com a inauguração de mais um equipamento: o primeiro laboratório da América Latina dedicado a estudar todo o ciclo do silício. Ele foi concebido para acompanhar desde o grau de pureza do minério extraído em diferentes jazidas do País (principalmente em Minas Gerais, Bahia e Goiás) até sua aplicação em módulos fotovoltaicos.

Segundo o gerente de P&D da BYD Energy, Rodrigo Garcia, o Brasil tem potencial para ser autossuficiente no setor. “Em 2022, o País foi o terceiro maior exportador global de silício. Nosso objetivo é fortalecer a produção de módulos fotovoltaicos em território nacional”, afirmou. O silício é o material que tem a maior capacidade de converter a luz do sol em eletricidade. A empresa também fará baterias em Campinas.

Game changer: com 5 mil unidades comercializadas em quatros meses, o Dolphin é o recordista de vendas entre os elétricos e o carro mais premiado em 2023 no Brasil, com dez títulos de melhor do ano. A combinação de eficiência, design e baixo custo forçou a concorrência a rever suas margens — em alguns casos, com descontos de até R$ 100 mil para fazer frente ao carro que está à venda por R$ 149.900 (Crédito:Divulgação)

Com seus 600 mil colaboradores em todo o mundo, incluindo 90 mil PhDs, a BYD trabalha para que as exigências de mobilidade não impactem o meio ambiente. É assim que ela espera conter o aquecimento global. “No geral, consideramos que as políticas climáticas mais eficazes são aquelas que incentivam a mudança para energias mais limpas, incentivam a inovação tecnológica e facilitam a transição de infraestruturas”, disse Stella Li. “Essas soluções devem ser acessíveis e para todos. Acreditamos que esses fatores trarão uma mudança real e duradoura na forma como tratamos o nosso planeta.”

Se ela estiver certa, o sonho de reduzir a temperatura em 1º C poderá se tornar realidade em menos tempo do que se imagina. E essa revolução chinesa passa pelo Brasil, onde já circulam ônibus elétricos (inclusive biarticulados) da BYD em diversas cidades e o mercado de carros está sendo recriado pelas inovações da empresa.

ENTREVISTA
Alexandre Baldy, Chairman da BYD no Brasil

(Divulgação)

“A BYD trouxe uma nova cultura para um segmento que é paixão nacional”

Com uma carreira no setor público que inclui um mandato de deputado federal por Goiás, o comando do ministério das Cidades no governo Temer e a secretaria de Transportes Metropolitanos do Estado de São Paulo na gestão João Doria, Alexandre Baldy chegou à BYD este ano na posição de special advisor e acabou se tornando chairman da operação brasileira. Na nova função, que ele admitiu ser completamente distinta de tudo que vivenciou nos últimos anos, terá de fazer também a ponte com o poder público, fundamental para criar uma política de estímulo à substituição da frota de veículos a combustão por elétricos.

A BYD se tornou a queridinha dos consumidores e uma pedra no caminho das rivais, que estão sendo forçadas a rever suas políticas de preço. Isso aumenta sua responsabilidade?
A BYD é uma greentech que está causando transformações profundas no setor automotivo brasileiro. Ela não apenas trouxe novos modelos de carro como uma nova cultura para um segmento que é uma paixão nacional. Lançou o modelo híbrido plug-in mais econômico do mercado [Song Plus] que se tornou líder de vendas em sete meses, e alcançou o primeiro lugar entre os elétricos com o Dolphin em apenas quatro meses. Ter conseguido esses resultados impõe novos desafios, que passam por uma transformação cultural. Temos que ensinar as pessoas a usar o carro de outra forma, sem pensar no posto de combustível e sim em recarregar em casa.

Como a BYD pretende atuar na infraestrutura de recarga de elétricos?
O setor automotivo tem se empenhado para diversificar e capilarizar a infraestrutura de recarga. Isso dará mais tranquilidade ao consumidor, acostumado a abastecer em qualquer lugar. O poder público precisa ter sensibilidade para entender as vantagens do carro elétrico. Além da isenção de IPVA, entendemos que é preciso implantar carregadores em vias públicas tanto urbanas quanto em estradas.

Rodar mais com menos dinheiro e não emitir poluentes é uma premissa do carro elétrico e não só os da BYD. Por que a marca chinesa conquistou o consumidor brasileiro?
Além de oferecer carros disruptivos, com muita tecnologia e design pelo preço de venda, a BYD está fazendo um investimento de R$ 200 milhões só este ano na rede de concessionárias. Nosso custo de manutenção também é menor. Em alguns casos, uma peça equivalente custa 20% do preço praticado pela concorrência. O consumidor percebeu não apenas isso como também o fato de que o compromisso da BYD com o Brasil é de longo prazo, com investimentos para fazer do polo de Camaçari um parque fabril com o DNA da BYD, que traz para dentro de casa no mínimo 70% do fornecimento das partes necessárias para o carro, a começar pelas baterias que usam tecnologia proprietária. Isso reduz o custo para que a competitividade seja efetiva.