Finanças

Bradesco busca transição suave

Mesmo com novo presidente, banco evita antecipar possíveis mudanças na estratégia e deixa eventuais novidades na alta direção para 2024

Crédito: Divulgação

Para o presidente do conselho Luiz Carlos Trabuco Cappi (à esq.) e o diretor-presidente Marcelo Noronha, o cenário de 2024 favorecerá a lucratividade do banco (Crédito: Divulgação)

Por Celso Masson

No início de novembro, ao divulgar o resultado do terceiro trimestre de 2023, o Bradesco apresentou números apenas um pouco acima do que o mercado projetava. O lucro líquido do segundo maior banco privado do País, com 80 anos de história, 25 milhões de correntistas pessoa física e 2 milhões de empresas clientes, ficou em R$ 4,621 bilhões. Analistas previam algo em torno de R$ 4,5 bilhões. A queda foi de 11,5% em relação ao mesmo trimestre de 2022. A rentabilidade sobre o patrimônio, em 11,3%, foi a pior entre os grandes bancos — bem atrás de Banco do Brasil (21,3%) e Itaú (21,1%). Os números podem não ter sido a causa principal, mas certamente precipitaram mudanças no comando da instituição. Ainda no final de novembro, o Bradesco oficializou a saída do diretor-presidente Octavio de Lazari Jr. Com cinco anos no cargo, ele foi o executivo que menos permaneceu na função. Seu lugar foi ocupado pelo então vice-presidente responsável pela área de Varejo do banco, Marcelo Noronha. A vaga ainda não foi preenchida.

Na segunda-feira (18), em um almoço do qual participaram o presidente do Conselho de Administração, Luiz Carlos Trabuco Cappi, além dos VPs Cassiano Scarpelli, José Ramos Rocha Neto, Moacir Nachbar e Rogério Câmara, Noronha recebeu alguns jornalistas, incluindo a reportagem da DINHEIRO, para falar de suas expectativas em relação a 2024. Ainda que a oportunidade fosse perfeita para revelar o que ele pretende fazer de diferente, o que se ouviu foi um pedido de paciência.

“Estamos trabalhando em um conjunto de medidas que será anunciado em fevereiro”, afirmou. “Não teremos tanta mudança assim.” Diante dos resultados insatisfatórios do terceiro trimestre e da urgência de apresentar um plano para recuperar o lucro perdido, o posicionamento foi um tanto frustrante ­— até para um executivo do Bradesco que falou sob anonimato: “Estamos numa fase que não dá para enrolar. Precisamos ser objetivos.”

ALAVANCAGEM MENOR

Como diz o senso comum, navio grande não faz curva fechada. No Bradesco, a cultura costuma se manter firme aos ventos e às ondas, mesmo quando adversas. Por isso, a trajetória daqui em diante não diz respeito à forma de navegar e sim às condições climáticas. A aposta dos executivos do banco é de tempo firme em 2024, com queda dos juros no Brasil e no mundo, inflação abaixo de 4%, aumento do nível de emprego e da massa salarial, e crescimento do PIB em torno de 2%.

Na visão de Trabuco, a aprovação da Reforma Tributária “foi um ganho para a política monetária” e o cenário de queda de juros nos EUA prenuncia um cenário muito bom para o País.

Esse horizonte, por si só, tem potencial para reduzir a inadimplência tanto pelas pessoas físicas quanto pelas empresas, cuja alavancagem deverá ser bem menor que a atual.

Segundo Noronha, a relação da dívida líquida sobre o Ebitda tende a sair de uma média de 2,1 hoje para 1,8 em meados do novo ano. O dado se refere às empresas de capital aberto, com exceção de Petrobras, Vale e Eletrobras.

Para o banco, quando a saúde financeira da clientela vai bem, o resultado melhora. O diretor-presidente do Bradesco também se disse otimista com o papel do Brasil na transição energética rumo à economia de baixo carbono, o que pode atrair investimentos estrangeiros para o País com a geração de novos negócios.

Caso esse roteiro seja seguido sem grandes adversidades (como foram a guerra na Ucrânia e o caso Americanas), haverá uma retomada da rentabilidade nas operações bancárias.

Só isso já seria suficiente para melhorar as margens de 2024. O banco também acredita que o financiamento imobiliário será beneficiado pela redução dos juros.

Um horizonte promissor para o homem que assumiu o comando de uma embarcação gigante chamada Bradesco.