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Títulos verdes: garantia de governo e empresas deve trazer retorno promissor

Volta do protagonismo brasileiro na agenda global de sustentabilidade tem contribuído para aumento na procura por investimentos atrelados a resultados socioambientais. Empresas com capital aberto têm apresentado iniciativas em ESG e descarbonização para atrair investidores

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Além dos títulos do governo ancorados em compromissos ambientais, o investidor pode navegar entre as empresas listadas na bolsa de valores que também tenham propósitos de sustentabilidade bem claros. (Crédito: Istockphoto)

Por Sérgio Vieira

O Brasil deu, recentemente, um passo econômico importante ao emitir, pela primeira vez, títulos da dívida externa associados a compromissos ambientais. O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, anunciou que o Tesouro Nacional conseguiu captar cerca de US$ 2 bilhões no mercado internacional com os chamados títulos verdes (green bonds).

A sinalização do governo federal foi encarada pelo mercado financeiro como uma enorme oportunidade de investimento no segmento sustentável e uma abertura de portas para uma ampliação nesse tipo de carteira. Pelo desenho anunciado pela Fazenda, o compromisso é de alocar entre 50% e 60% desse montante em ações ambientais e entre 40% e 50% em iniciativas sociais. E é justamente o conceito desse tipo de investimento: que ele seja capaz de garantir um bom retorno financeiro ao investidor, mas também possa alcançar um bom resultado socioambiental. E isso vale tanto para o setor público quanto para a iniciativa privada.

Emitidos em dólar, os títulos verdes do governo têm prazo de sete anos. A taxa de retorno será de 6,5% em 12 meses. Do total dos investidores internacionais dos títulos verdes brasileiros, 75% são da Europa e América do Norte, e 25% da América Latina, incluindo o Brasil.

Para Marcela Kasparian, cofundadora da Semeare Investimentos, o tema vem ganhando grande relevância no último ano, principalmente com a volta do protagonismo brasileiro nas discussões globais sobre sustentabilidade e redução de desmatamento, além da forte presença do País na Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP-28), realizada em dezembro, em Dubai.

“No exterior, essa agenda está acelerada e o Brasil vem acompanhando o ritmo. Existe a cultura dos investidores em ações sustentáveis, alinhados a seus valores”, disse. “Com a evolução do mercado, as pessoas estão mais cientes no que estão aplicando. E o grande catalisador disso tudo está na regulamentação”, afirmou a executiva. Se os títulos verdes hoje são vistos como investimentos bem interessantes, a expectativa é de que a procura possa crescer ainda mais caso haja algum tipo de benefício fiscal aos investidores. “Seria importante para impulsionar essas carteiras, a exemplo do que ocorre com outros títulos”, disse Marcela.

Outra alternativa caso você seja o tipo de investidor que busca novas formas de investimento (e de quebra quer ajudar a melhorar o mundo), uma opção é alocar recursos em papéis de companhias listadas na bolsa de valores e que tenham propósitos ambientais bem claros. Nesse sentido, o Índice de Sustentabilidade Empresarial (ISE) da B3 é um bom sinalizador dessas práticas. A iniciativa é pioneira na América Latina e o quarto índice de sustentabilidade no mundo.

Na carteira ISE B3 2023/2024, que entrou em vigor no dia 2 de janeiro, estão reunidas 78 companhias com ações listadas na bolsa de valores, pertencentes a 36 setores. Em relação ao ano anterior, o aumento no número de empresas foi de 18% (eram 66 na carteira 2022/2023).

“O nosso papel é de hub do sistema financeiro, de transmissão de informação. O que a gente faz é conectar esses atores e transmitir o que achamos que são as melhores práticas”, disse Leonardo Paulino Betanho, superintendente de produtos de balcão da B3.

E, para poder dizer quem está cumprindo essas regras, é importante que a própria B3 cumpra esses requisitos. “O primeiro pilar é estabelecer quais as boas práticas da companhia atrelados às práticas ESG. E, para isso, é necessário estar bem em termos de governança”, afirmou.

Além do ISE B3, há outros instrumentos financeiros diretamente focados na entrega de benefícios socioambientais. Um deles é o Crédito de Descabornização (CBIO), oferecido pela bolsa desde abril de 2020.

Cada CBIO corresponde a uma tonelada de CO2 evitado, não tem data de vencimento e será retirado de circulação quando sua aposentadoria for solicitada. “A gente pretende, com esse programa, chegar em 2030 com 90 milhões de toneladas de CO2 neutralizadas por ano”, disse o superintendente da B3.

Trazendo para a realidade olímpica, os investimentos sustentáveis têm hoje no Brasil um mar de oportunidades para ser desbravado e, assim como a rotina de um atleta da canoagem, ainda é necessário remar para avançar, mas o Brasil está à frente de seus concorrentes.