Economia além do esperado
Por Carlos José Marques
Os resultados promissores do PIB que surpreenderam a todos os analistas não foram obra do acaso, mas de políticas consistentes na direção da retomada de prumo. Habemus governo, finalmente, após um longo interregno de irresponsabilidade administrativa da gestão Bolsonaro. Opositores aportam os bons números no fator sorte ou atribuem o resultado a um ou outro fator pontual como o do desempenho surpreendente do agronegócio. Tentativa rasa de mascarar a torcida negativa que sempre acalentaram. É evidente que a melhora geral vai muito além dessa ou daquela variável. Não foi uma retomada baseada na inércia. Simplista demais pensar assim, como se os astros conspirassem para dar tudo certo na batuta de Lula 3.0. O comando do Planalto tem parcela significativa de responsabilidade na guinada em curso. No plano das boas novas, fazia muitos anos não se via uma taxa de desemprego tão baixa. A inflação desacelerou de maneira consistente e inédita. Os indicadores positivos seguem em diversas direções. Mostram uma queda acentuada nas taxas de desmatamento. Os acordos bilaterais e entradas de investimentos estrangeiros, especialmente nessa área, retomaram seu fluxo. O Fundo Amazônia com generosos recursos foi reaberto. E isso é típico de política de Estado, de habilidade na negociação, de diplomacia correta. Fatores que voltaram à tona após o Brasil se transformar em pária do mundo. Ter governo que decide, planeja e procura ações efetivas em prol dos cidadãos faz a diferença. É o que está acontecendo. As movimentações e programas no plano social foram reabilitados e mesmo áreas como as da educação e saúde receberam de volta a atenção devida. Não há dúvida: a travessia ainda é delicada. Muitos desafios à frente. Inevitavelmente necessários muito sangue-frio e habilidade da equipe econômica para conduzir entendimentos e projetos estruturais a bom termo junto ao Congresso. Porém passos importantes aconteceram. A agenda de reformas deu a tônica de 2023. Finalmente temos novos fundamentos tributários aprovados para entrar em vigor. No rol de medidas no apagar das luzes, mais verbas foram alocadas para o renascimento da indústria, especialmente a automobilística, que há anos vive um processo de reclusão e fechamento de fábricas, com a debandada definitiva de algumas montadoras. Coube ao elenco do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, desarmar uma bomba nas contas públicas, com um rombo monstruoso que a equipe do antecessor deixou na base de incentivos populistas e emendas imorais do famigerado orçamento secreto, criado basicamente para tentar a reeleição do mandatário da vez, na base da compra descarada de votos. Hoje Haddad persegue o déficit zero e, mesmo que não consiga, espera chegar bem perto disso. O salário mínimo teve o primeiro aumento real em anos, bem como o Bolsa Família. No conjunto de melhorias há, decerto, um fortalecimento de fundamentos estruturais. A prática corriqueira se furar o teto de gastos com agrados irresponsáveis como fez Bolsonaro para se garantir no cargo, distribuindo vouchers a taxistas e caminhoneiros, afrouxando o ICMS dos combustíveis (que seria compensado no ano seguinte, deixando a bomba para o sucessor) e outras traquinagens, ficou para trás. Lula, ao tomar posse, usou da experiência política para rearrumar a casa e negociar aprovações das medidas necessárias ante um parlamento amplamente desfavorável. Usou de muito jogo de cintura e as boas consequências estão aí postas. As bases do arcabouço fiscal com regras que limitam o aumento de despesas e focam no crescimento da receita virou realidade. De quebra: a taxação do mercado de apostas eletrônicas, dos investimentos offshores e dos fundos exclusivos trazem alento à contabilidade pública e demonstram, cabalmente, que a gestão hoje no poder traz expectativas promissoras de disciplina administrativa para os próximos anos.