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Os desafios de 2024

Crédito: Mateus Bonom

Carlos José Marques: "Lula sabe que depende de Haddad em vários sentidos e aposta as suas fichas de 2024 na condução das batalhas sob a batuta do czar da economia" (Crédito: Mateus Bonom)

Por Carlos José Marques 

Na quantidade de batalhas que o governo Lula tem que enfrentar logo no início deste ano a vitória não será nada fácil. Tem de tudo um pouco. No campo econômico, ambiental e até na gestão propriamente dita de sua estrutura. A começar pelo árido tema da reoneração que contrariou não apenas os empresários como o Congresso inteiro. O ministro Fernando Haddad, que levou a cabo a ideia, tem o aval do Supremo e promete levar a pendenga até as últimas consequências. Conta com essa arrecadação extra para cumprir a meta fiscal. Parlamentares ensaiam resistência e devolução do projeto. O presidente em pessoa está disposto a revidar, mantendo vetos sobre emendas e ampliando as brigas no plano do marco temporal e dos agrotóxicos. Grandes desafios estão postos. Dias atrás, o mandatário deliberou uma resposta mais firme ao garimpo ilegal, estabelecendo que forças militares irão permanecer indefinidamente em terras Yanomamis para coibir as invasões. Os vetos ao projeto que flexibiliza o uso de agrotóxicos no País irritou, por sua vez, os produtores e a enorme bancada do agronegócio. Com a alcunha de ‘PL do Veneno’ lançada pelos ambientalistas, ele foi aprovado no apagar das luzes do ano passado e Lula almeja manter o regime anterior que prevê uma aprovação regulatória tripartite. Não menos árido é o tema do Marco Temporal, de demarcação das terras indígenas, que interessa fortemente aos ruralistas. Lula enfrenta pressões internas e externas a respeito do assunto. Chegou a vetar o projeto de lei, teve o veto derrubado e agora precisa conduzir o assunto no plano judicial. O fato é que não tem sido nada fácil arrumar a casa diante de um paredão parlamentar claramente opositor e que se move apenas pelos próprios interesses ou via troca de cargos e emendas. O reforço de caixa da União é peça basilar nesse tabuleiro. Sem ela, a execução orçamentária será muito difícil e colocará toda a gestão do mandato Lula a perder. Arrecadação e recuperação econômica andam juntas e o ministro Haddad sabe que desse binômio depende o sucesso e a aprovação do demiurgo de Garanhuns. As concessões federais em busca de aliados vêm há algum tempo minando os esforços. Os gastos excessivos da máquina, idem. Lula alega que para crescer são necessários gastos (que ele chama de investimentos). De uma forma ou de outra, é dinheiro que sai e compromete o arcabouço fiscal. É preciso controlar a dívida pública, que subiu a patamares insustentáveis no governo anterior com a farra de benefícios. A Reforma Tributária, recém-aprovada, pode ajudar nessa direção, corrigindo o sistema de impostos que era um dos mais complexos e atrasados do mundo. O ministro Haddad busca construir um equilíbrio econômico de forma racional e contribuiu para isso a queda dos juros e da inflação. Ele tem angariado importantes vitórias e feito a diferença na credibilidade da administração pública, como interlocutor preferencial dos agentes. Lula sabe que depende de Haddad em vários sentidos e aposta as suas fichas de 2024 na condução das batalhas sob a batuta do czar da economia.