Negócios

Aviões da Boeing voltam a ter problemas de confiabilidade

Fabricante americana é obrigada, mais uma vez, a suspender voos de 170 aeronaves do modelo 737 Max 9, depois de uma porta ser arrancada em pleno voo. O modelo anterior, o 737 Max 8, foi responsável por dois acidentes que mataram 346 pessoas

Crédito: Divulgação

Porta do modelo 737 Max 9, o mais moderno da americana Boeing, foi perdida a 16 mil pés (Crédito: Divulgação)

Por Hugo Cilo

Considerado o meio de transporte mais seguro do mundo, o avião está sob a mira — e as preocupações — de passageiros e companhias aéreas de todo o mundo desde a semana passada. A reputação voltou a ser abalada depois de uma porta do modelo 737 Max 9, o mais moderno da americana Boeing, operado pela Alaska Airlines, ser arrancada em pleno voo, em 5 de janeiro. Seria um caso isolado se não fosse o currículo recente da Boeing. Em 2018 e 2019, dois acidentes com um modelo anterior da empresa, o 737 Max 8, mataram 346 pessoas na Indonésia e na Etiópia.

Desta vez, a porta foi perdida a 16 mil pés, 4.800 metros de altitude, resultando em despressurização explosiva, que puxou para fora pertences pessoais de alguns passageiros, incluindo um celular que foi encontrado intacto no solo. Diante do caso, os voos do 737 Max 9 foram suspensos quase no mundo todo, e inspeções foram ordenadas pela FAA, a Administração Federal de Aviação Civil dos EUA.

No Brasil, o modelo é operado apenas pela panamenha Copa Airlines. A empresa suspendeu seus 21 voos no País até que o caso seja resolvido. “A Copa Airlines lamenta profundamente os cancelamentos e atrasos de voos em decorrência desta situação, fora de seu controle, e expressa suas mais sinceras desculpas aos seus passageiros pelos transtornos causados”, informou a empresa, em nota.

A Copa Airlines tem 96 aeronaves e voa para 81 destinos em 32 países. No Brasil, há 79 voos semanais saindo de Brasília (BSB), Belo Horizonte (CNF), Manaus (MAO), Porto Alegre (POA), Rio de Janeiro (GIG) ou São Paulo (GRU) para o Panamá.

“Vamos abordar isso com 100% de transparência, em primeiro lugar, reconhecendo nosso erro.”
Dave Calhoun, presidente da Boeing

Dave Calhoun, presidente da Boeing (Crédito:Divulgação)

Enquanto companhias aéreas do mundo todo divulgavam a suspensão dos voos com o Max 9, a americana United Airlines comunicou, na segunda-feira (8), algo ainda mais preocupante. Durante as inspeções, a empresa encontrou parafusos soltos ou mal apertados.

O alerta levantou várias acusações contra a Spirit AeroSystems, principal fornecedora da Boeing e que está sob escrutínio por seguidos problemas de controle de qualidade.

Em resposta, a Spirit reconheceu os problemas e admitiu que relatórios iniciais indicam que algumas peças soltas eram visíveis em algumas aeronaves. “A Spirit AeroSystems está agora apoiando diretamente a investigação. Como empresa, continuamos focados na qualidade de cada estrutura de aeronave que sai de nossas instalações.”

O presidente-executivo da Boeing, Dave Calhoun, tem assumido a responsabilidade pelos erros cometidos pela fabricante e afirmou que fará de tudo para acidentes como o que ocorreu com a Alaska Airlines em pleno voo nunca mais aconteça. “Temos consciência da real gravidade do acidente. Fiquei abalado até os ossos com o acidente”, disse. “Vamos abordar isso com 100% de transparência, em primeiro lugar, reconhecendo nosso erro”, disse Calhoun, em reunião com funcionários.

Existem 215 aeronaves do modelo 737 Max 9 em serviço em todo o mundo. Na América Latina, é operado pela Copa Airlines e Aeroméxico (Crédito:Divulgação)

FROTA

• O Max 9 da Boeing faz parte da série 737 Max e pode transportar até 220 passageiros, dependendo da configuração dos assentos. No total, existem 215 aeronaves Max 9 em serviço em todo o mundo, segundo dados da Cirium, empresa de análise de aviação.

• Nos Estados Unidos, a United Airlines e a Alaska Airlines possuem quase um terço desses aviões. A United Airlines possui 79 aviões Max 9 em serviço, o maior número de qualquer companhia aérea.

• Na América Latina, além da Copa Airlines, o modelo é operado pela Aeroméxico. A empresa informou que manterá seus 19 aviões 737 Max 9 em solo até que sejam inspecionados. “A inspeção da nossa frota Max 9 será concluída o mais rápido possível para continuar com as operações programadas e continuaremos a trabalhar em estreita colaboração com a Boeing e as autoridades competentes”, afirmou a companhia aérea mexicana.

(Paul Weatherman)

• Outras empresas que têm em sua frota o Boeing 737 Max 9 são a SCAT Airlines (Cazaquistão), a Icelandair (Islândia), a Turkish Airlines (Turquia) e a FlyDubai (Emirados Árabes Unidos).

• No Reino Unido, a Autoridade de Aviação Civil proibiu que empresas estrangeiras operem no espaço aéreo britânico até que as inspeções sejam concluídas.

• Já a Agência de Segurança da Aviação da União Europeia (EASA) disse que está seguindo a orientação da FAA, mas que as interrupções nos voos no continente deverão ser mínimas.

•A medida também atingiu o Brasil, onde a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), seguindo a decisão da FAA, ordenou a suspensão das operações com esses modelos.

Na última semana, entre a segunda-feira (8) e a tarde da quinta-feira (11), as ações da Boeing na bolsa americana acumulavam baixa de 8,2%. Em relatório, o banco Goldman Sachs destacou que “qualquer problema de controle de qualidade introduz riscos no cenário de produção e de entrega”, mas ponderou que pode ter um impacto que vai além do curto prazo.