Seu trem exclusivo pela rota da seda
Roteiro privativo sobre trilhos do Cazaquistão ao Turcomenistão é uma das novidades que marcam o vigésimo aniversário da Latitudes, pioneira em viagens de conhecimento
Por Celso Masson
Há 20 anos, quando criou a agência de viagens Latitudes, o propósito do empresário Alexandre Cymbalista era guiar brasileiros que buscavam elevação espiritual em destinos como Índia e Tibete. Assim como ocorreu com muitos dos clientes da agência em seus primórdios, ela também evoluiu. A ponto de ganhar um sobrenome — Viagens de Conhecimento — e se especializar em roteiros com conexões culturais e de aprendizado nos campos da história, da filosofia e da religião. Hoje, a Latitudes realiza mais de 40 itinerários em grupo por ano.
Para atender as necessidades de viajantes que já conhecem boa parte do mundo, ela passou a oferecer também novas formas de viajar, com expedições privativas para lugares ainda pouco abertos ao turismo — e que permitam expandir horizontes sem abrir mão do conforto e da segurança.
Segundo Cymbalista, mais que atender a uma demanda dos clientes, o que a empresa faz é criar demandas. “Assim como havia um público interessando em ioga e filosofa oriental, muito mais gente estava disposta a descobrir o mundo da forma como nós queremos mostrar.”
O primeiro passo para obter êxito com o novo modelo foi criar uma parceria com a Casa do Saber, escola de formação continuada que virou fenômeno junto à elite paulistana nos anos 2000. Foi assim que o filósofo Luiz Felipe Pondé e o historiador Leandro Karnal passaram a acompanhar os grupos da Latitudes em viagens à Grécia e a outros destinos considerados berços da civilização.
O passo seguinte foi a viagem de volta ao mundo a bordo de um jato privativo. Lançada em 2016, se tornou sucesso absoluto, apesar do custo elevado (cerca de US$ 150 mil por pessoa).
Este ano, novas expedições entraram no portfólio da Latitudes: um cruzeiro para a Antártica e uma viagem de trem pela rota da seda, passando por cinco países que poucos estrangeiros costumam visitar.
Por serem culturas muito fechadas, a vida do turista tende a ser difícil. “Com o trem a gente conseguiu tracejar uma rota que chega aos principais pontos de cada um desses lugares de forma fácil, com boa acomodação, ótima comida e a vantagem de viajar à noite e explorar as atrações durante o dia”, afirmou Cymbalista. “São países que combinam culturas muito fortes, com heranças do império persa e tradições islâmicas, a belezas naturais extraordinárias.”
O trem, privativo para o grupo fechado pela Latitudes, possui três categorias de cabine: silver, golden e imperial, todas decoradas com esmero, incluindo banheiros com chuveiro e muitas mordomias a bordo.
Fazendo jus à proposta de viagem do conhecimento, dois palestrantes acompanham o grupo durante todo o percurso. São eles o doutor em História Cultural Saulo Goulart e o jornalista especializado em conjuntura global Jaime Spitzcovsky. Colunista da Folha de S. Paulo, ele irá apresentar os aspectos geopolíticos que definem a região.
Partindo do Cazaquistão no dia 17 de outubro, o trem cruzará o Quirguistão, o Uzbequistão e o Tadjiquistão para chegar ao Turcomenistão no dia 1º de novembro. “O interessante dessa viagem é poder testemunhar não apenas a história, a cultura e a paisagem, mas entender o que está acontecendo com a economia da região. São países que, assim como os Emirados Árabes, enriqueceram com petróleo e gás e fazem questão de ostentar essa riqueza, com torres de mármore e até de ouro”, afirmou Cymbalista.
O investimento gira em torno de US$ 40 mil por pessoa. Segundo o CEO da Latitudes, a categoria imperial, mais cara, foi a que gerou maior procura. “O glamour de viajar em um trem assim, com restaurante e bar, é um atrativo por si só, mas há clientes que esperam ter um espaço maior para dormir, ler, relaxar.” O custo é bem menor que o do private jet, mas quatro vezes o valor de uma viagem normal em grupo oferecida pela agência (a partir de US$ 10 mil por pessoa).
LOGÍSTICA
Qualquer que seja o bolso do viajante, em todos eles há um fator em comum: o desejo de se confrontar com o diferente — desde que sem correr riscos desnecessários. É aí que entra a expertise da Latitudes, que mantém uma equipe de profissionais dedicada a resolver as questões logísticas.
A viagem de trem, por exemplo, foi feita em outubro passado por um especialista na região para verificar as condições e as eventuais dificuldades, principalmente relativas ao controle de fronteiras, já que alguns desses países ainda são o equivalente local à Coreia do Norte em termos de restrição ao turismo.
E, se apesar de todas as precauções da agência, alguém ainda achar que uma viagem de trem não é seu programa preferido, a agência oferece opções para quem prefere navio ou avião.
A partir do alto, mesquita na capital do Turcomenistão, detalhes do trem privativo fretado pela Latitudes para a viagem, e paisagem do Tadjiquistão. Acompanham o grupo dois especialistas em política internacional e história
Expedições pelo mar e pelo céu
• O jato privativo da Latitudes parte para sua sexta expedição em outubro deste ano. Passará por Ilha de Páscoa (Chile), Fiji, Austrália, Bali (Indonésia), Índia, Tanzânia, Arábia Saudita e Granada (Espanha).
• Antes, será realizada a primeira expedição a bordo de um navio privativo, com destino à Antártica. O grupo será acompanhado pela bióloga e especialista em ecossistemas polares Ema Kuhn, pelo físico e astrônomo Marcelo Gleiser, pela psicanalista e filósofa Maria Homem de Mello e pelo rabino da Congregação Judaica do Brasil Nilton Bonder.
• Em 2025, um iate de luxo fretado pela agência irá inaugurar um novo roteiro, passando por pontos do Mediterrâneo que não podem ser acessados por grandes navios de cruzeiro.