O caminho bilionário do plano funerário
Cesar Marchetti, empresário de Sorocaba que criou império com 22 empresas a partir da expansão da Ossel Assistência no Grande ABC, aposta na telemedicina para alcançar faturamento de R$ 1 bilhão
Por Sérgio Vieira
Falar de morte nunca foi uma tarefa fácil. Mas é necessário, convenhamos. Até inevitável. Mas foi justamente a partir de um tema desconfortável mas importante que surgiu, em 1987, o plano funerário Ossel, em Sorocaba (SP), criada por Arany Marchetti, justamente para oferecer oportunidade de planejamento de gastos ligados ao momento de um funeral, sem necessariamente ter que cuidar disso na hora da dor. Hoje, a companhia integra um grupo de 22 empresas, comandada pelo empresário Cesar Marchetti, filho de Arany, que planeja alcançar faturamento de R$ 1 bilhão até 2026. O horizonte para o salto está no recém-implantado serviço de telemedicina, chamado Ossel Care. “O nosso conceito é de oferecer um serviço popular, para atender toda a família, com 24 especialidades”, disse o executivo.
A expansão do grupo Ossel começou em 1998, quando Marchetti deixou a cidade natal, com 22 anos, para desbravar o mercado do setor em Santo André, no Grande ABC paulista. Recém-casado, ele chegou à região com R$ 1,5 mil no bolso, uma Kombi e o desejo de conquistar clientes que não faziam ideia do que era esse serviço.
“As pessoas não entendiam do que se tratava. A gente criou o conceito”, afirmou. “O que a gente mais recebia era não. O difícil era convencer da importância desse serviço.” O cenário atual é bem diferente. São 135 mil contratos no Brasil, com cerca de 1,2 milhão de vidas seguradas, com 10 mil mortes de associados ao ano.
Hoje chamada de Ossel Assistência, o plano tem um conceito muito maior do que apenas garantir um velório digno a um familiar. “Nosso serviço é de assistência e acolhimento. Para ter ideia dessa preocupação, criamos o programa Mãos que Acolhem, para garantir conforto aos que perderam parentes e ainda não conseguiram superar o luto.”
Para também amenizar a dor, a empresa adotou o ‘cãolaborador’, um Golden Retriever, que fica cerca de uma hora no velório, e leva uma espécie de bolsa com mensagens acolhedoras. A empresa também tem assistência funerária para animais, o Ossel Pet. Em 2024 o grupo vai oferecer uma sala de velório com holografia, em um ambiente 3D durante a cerimônia.
“Ampliar a Ossel foi o mesmo que tirar um avião do chão. e agora segue em voo de cruzeiro. Quero seguir com estímulo e gerar empregos.”
Cesar Marchetti, presidente do grupo Ossel
A empresa de Marchetti também faz parte do consórcio Consolare, vencedor do serviço funerário da Prefeitura de São Paulo para administrar parte dos cemitérios da cidade, como Quarta Parada, Santana, Tremembé, Vila Formosa e Vila Mariana, que deve render faturamento de R$ 200 milhões por ano. Somente na capital a Ossel é responsável pelo serviço de 3,5 mil óbitos por mês.
Marchetti lembra que o grande desafio da empresa foi enfrentar a pandemia da Covid-19, em um período em que sequer velório era realizado, muito menos a possibilidade da venda de outros serviços, como floricultura. “Foi um filme de terror. Dobrou o serviço e desabou o faturamento. Triplicou o número de mortes por dia. Mas conseguimos superar esse momento.”
DIVERSIFICAÇÃO
• Ao longo das quase quatro décadas, Marchetti tem ampliado o negócio, com serviços correlatos à manutenção da qualidade de vida. Em 2008, ele criou a Sorocaps, fábrica de cápsulas para medicamentos soft gel, que são mais bem absorvidas pelo corpo do que um comprimido comum. A proposta da indústria farmacêutica é ser no formato white label, com a marca do cliente.
• Para fechar o ecossistema, o grupo tem também uma empresa de embalagens, a Henriplast, e a gráfica R3R. A Sorocaps hoje é responsável pela metade do faturamento do grupo Ossel, que em 2024 deve chegar a R$ 800 milhões. Neste ano, serão produzidos 2 bilhões de cápsulas, com sete produtos, sendo cinco novos.
• Em um caminho empresarial ainda mais diversificado, Marchetti inaugurou em 2022 um restaurante em Santo André (SP) para atender apreciadores de bons vinhos e rótulos quase exclusivos, o Mont Cristo Wine & Bar.
E é no desenvolvimento destes novos negócios do grupo Ossel, que hoje tem cerca de 1,2 mil funcionários, que Marchetti tem depositado energia. “Ampliar a Ossel foi o mesmo que tirar um avião do chão. E agora segue em voo de cruzeiro. E por isso que quero sempre seguir com o estímulo de trabalhar em outros projetos e gerar empregos.”