Liderança é uma via de duas mãos
Por Heverton Peixoto
A s redes sociais transformaram profundamente o cenário da comunicação no mundo corporativo. Externamente, elas ampliaram a força das empresas e dos colaboradores, que as utilizam como ferramenta para expor opiniões, abordar temas relevantes para elas e para o setor nos quais atuam, comunicando-se com todos os seus stakeholders. No âmbito interno, mudou o que era uma comunicação mais hierárquica e centralizada, que abafava a voz das equipes nas companhias.
Se antes muitos chefes agiam como super-heróis inabaláveis, inquestionáveis e inacessíveis, a chegada das plataformas colaborativas e da gestão humanizada mudou a realidade. Cada vez mais o ambiente de trabalho tem se tornado um espaço para compartilhar ideias, sugerir projetos e manifestar ativamente a vontade de participar de comitês, incluindo os de tomada de decisão.
Com a gestão humanizada, esse perfil de chefe foi cedendo espaço para líderes que questionam, mas que também ouvem, já que, como humanos que são, têm incertezas. A escuta ativa – uma habilidade crucial na comunicação interpessoal que envolve concentração completa no que o interlocutor está dizendo, compreendendo suas palavras e respondendo de maneira apropriada – passou a ser uma soft skill cada vez mais desejada pelas áreas de seleção das empresas.
O gestor com perfil eloquente, que está o tempo todo direcionando a equipe, pode exercer uma gestão humanizada? Claro que sim. Muitos desses líderes ganharam posição de destaque por raciocinarem rápido, que é um ponto forte e valorizado, já que beneficia toda a empresa. Se ocupam tal posição é porque certamente têm outras habilidades igualmente apreciadas. E se precisam desenvolver a prática da escuta ativa, isto pode ser trabalhado. Afinal, todos temos fortalezas e pontos que precisam de burilamento.
Uma pesquisa recente ouviu 387 profissionais e perguntou o que mais tem faltado por parte dos líderes. A primeira ação a ser citada foi apoio (habilidade citada por 32,4%), seguida de comunicação (27,8%), liderança (19%), capacidade de decidir (17%) e objetividade (12,7%).
A capacidade de fornecer orientação clara e estratégica inclui definir metas, delegar responsabilidades e atividades alinhadas com os objetivos organizacionais para as tomadas de decisões. Dessa forma, o gestor pode ser eficaz e buscar inspirar sua equipe, definindo e orientando o caminho para atingir as metas estipuladas, contribuindo para um exercício de trabalho focado e produtivo, no qual os colaboradores se sentem parte mesmo quando não participam da tomada de decisão.
A habilidade de expressar ideias de forma direta e persuasiva também pode ser vantajosa, uma vez que o gestor pode influenciar positivamente nas ações da equipe e nas percepções dos stakeholders. Desta forma, garantem que suas ideias sejam compreendidas e consideradas – e não impostas.
Com isso, vale o convite para todos os líderes refletirem sobre como estão se comunicando, se estão realmente ouvindo atentamente suas equipes. Isto pode ser conferido por meio de feedback direto e autoavaliação regular.
O feedback pode apontar como as mensagens do líder são recebidas pela equipe, se são claras, inspiradoras e alinhadas com os objetivos da empresa. Já a autoavaliação permite que os gestores identifiquem onde estão se destacando, como na capacidade de tomada de decisão, na orientação do time, na empatia e no julgamento em situações complexas.
A autoavaliação é muito importante no protagonismo da carreira. Com ela é possível repensar pontos de destaque na liderança e criar oportunidades de aprimorar habilidades de comunicação, bem como demonstrar um compromisso contínuo com o crescimento pessoal e profissional. Isso cria um ambiente de trabalho mais colaborativo e eficaz, em que todos se sentem valorizados e motivados a contribuir para o sucesso.
Heverton Peixoto é engenheiro civil com MBA em Corporate Finance no Insead, CEO do Grupo Omni e conselheiro do Instituto de Inovação em Seguros e Resseguros da FGV