Medo de errar reduz chances de acertar

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Heverton Peixoto: "Embora o medo de errar seja esperado no mundo corporativo – afinal, ajuda o indivíduo a conter a impulsividade, fazendo com que avalie e repense com discernimento –, o medo também nos prende e estagna" (Crédito: Divulgação)

Por Heverton Peixoto

A nossa cultura profissional e as transformações do mundo corporativo têm deixado líderes e colaboradores cada vez mais exigentes. A necessidade de ser ágil, a alta demanda de trabalho e a rapidez na tomada de decisões têm sido alguns dos fatores responsáveis pelo medo de errar.

Mas, se errar é humano, por que temos medo? Muitas vezes, esse sentimento está ligado à pressão por resultados, à competição acirrada e à busca pela perfeição. Mas a menos que o erro comprometa o sucesso ou o resultado da empresa, o novo cálculo da rota pode trazer novas e boas oportunidades de aprendizado.

Para muitos profissionais, cometer um erro pode abalar a autoconfiança e a imagem de competência perante colegas e líderes. Isso pode gerar receio de arriscar ou de assumir responsabilidades desafiadoras.

Culturas organizacionais que proporcionam a valorização do aprendizado, que fornecem treinamentos e desenvolvimentos constantes e encorajam suas equipes fortalecem a capacidade de pensar de modo criativo e resolver de forma eficaz

Outro ponto é que o desejo de realizar um trabalho perfeito o tempo todo gera preocupação e estresse, fazendo com que, muitas vezes, prazos sejam perdidos e entregas sejam comprometidas. Estudos sugerem que o perfeccionismo extremo é prejudicial à saúde mental, acarretando um maior risco de esgotamento psicológico, insatisfação no trabalho e depressão.

Embora o medo de errar seja esperado no mundo corporativo – afinal, ajuda o indivíduo a conter a impulsividade, fazendo com que avalie e repense com discernimento –, o medo também nos prende e estagna.

Além de impedir que a empresa inove e se reinvente, também oferece oportunidades valiosas para aprender lições que não seriam assimiladas de outra forma. Quem tem medo de errar tem menos chances de acertar.

Somadas às pressões internas da empresa, funcionários também podem enfrentar expectativas externas de clientes, investidores ou reguladores. Essa dose extra de anseios pode intensificar o medo de cometer erros que possam afetar a reputação da empresa ou a relação com partes interessadas.

O medo de falhar também bloqueia muitas ideias potenciais. A vulnerabilidade transparece a ansiedade e o medo. Ser um líder arrojado exige saber lidar com a própria vulnerabilidade e a dos colaboradores.

O erro pode apontar insights sobre o que não funciona, ajudando a refinar e ajustar habilidades e estratégias. Não é raro observarmos que quem se arrisca consegue desenvolver trabalhos ainda mais incríveis, não é?

Não à toa uma das características buscadas pelos recrutadores é a resiliência, a capacidade de enfrentar situações adversas sem se abalar emocionalmente. Um funcionário resiliente não desperdiça seu tempo lamentando, mas buscando soluções e reconhecendo a chance de aprender com as adversidades.

Já os líderes têm como uma de suas responsabilidades, entre tantas outras, fornecer suporte e orientação aos membros da equipe para ajudá-los a superar o medo e alcançar seus potenciais máximos.

Perder o medo de errar no trabalho está diretamente ligado a ter mais autoconfiança, acreditar em suas próprias habilidades, competências e capacidade de lidar com desafios e adversidades. Quanto mais confiantes em suas capacidades, maior a tendência de assumir riscos calculados, enfrentar novos desafios com mais determinação e lidar melhor com os erros que eventualmente possam ocorrer.

Culturas organizacionais que proporcionam a valorização do aprendizado, que fornecem treinamentos e desenvolvimentos constantes e encorajam suas equipes fortalecem a capacidade de pensar de modo criativo e resolver de forma eficaz.

O medo nunca deixará de existir, mas realizar o trabalho da melhor forma que podemos e alcançar os nossos objetivos é um ato de coragem.

Heverton Peixoto é engenheiro civil com MBA em Corporate Finance no Insead, CEO do Grupo Omni e conselheiro do Instituto de Inovação em Seguros e Resseguros da FGV