Diversidade geracional na liderança: gerando valor sem estereotipar
Por Heverton Peixoto
O respeito às diferenças é um dos fatores essenciais de um ambiente de trabalho diverso. Trata-se de compreender e aceitar que os outros podem ter características distintas, que os tornam profissionais singulares. Isso vale também quando falamos em diferenças geracionais. Como o gestor pode compreendê-las e manter engajados profissionais de idades variadas?
Muito se fala dos desafios dos “conflitos geracionais” para a gestão de pessoas. Mas quero focar no positivo e enfatizar as oportunidades que um ambiente de trabalho com diversidade etária proporciona e, principalmente, em como ela pode gerar valor quando aplicada na liderança das empresas.
Hoje, temos ao menos quatro gerações convivendo no ambiente de trabalho. Predominantemente os baby-boomers, geração X, millennials e geração Z. Longe de serem homogêneos, esses grupos apresentam características psicossociais em comum.
Mais que desafios, essa mescla proporciona vantagens ao negócio. É amplamente reconhecido que um ambiente de trabalho diverso gera mais inovação e melhores resultados.
Mas, além disso, vale pensar em que cargos estão distribuídas as diferentes faixas etárias. Um líder jovem gerenciando profissionais de gerações anteriores ainda causa estranhamento, assim como uma pessoa com idade mais avançada ocupando um cargo de nível iniciante.
No entanto, conduzir times diversos exige diversidade também na liderança. Os talentos precisam ser considerados individualmente na hora de uma promoção. É preciso incentivar que diferentes gerações estejam abertas a aprender umas com as outras e compartilhar suas ideias com confiança.
Isso leva a outro ponto importante. Ao mesmo tempo em que compreenda as nuances de cada grupo, o gestor deve evitar o estereótipo geracional – assim como outros rótulos. Nem todo jovem da geração Z terá capacidade de concentração reduzida e nem toda geração X será resiliente.
Hoje, temos ao menos quatro gerações convivendo no ambiente de trabalho. Mais que desafios, essa mescla proporciona vantagens ao negócio. Um ambiente de trabalho diverso gera inovação e melhores resultados
De fato, o estudo Global Human Capital Trends 2020, da Deloitte, aponta que desde o pós-pandemia há maior alinhamento intergeracional em relação ao propósito de trabalho. A pesquisa concluiu que parte das atitudes associadas aos millennials – como o desejo de propósito e flexibilidade de horário – são, na verdade, válidas para todas as gerações.
A pesquisa ainda cita o termo perennial. Trata-se de não se identificar pela idade e sim pelos seus interesses, hábitos, gostos e experiências, mantendo uma vontade constante de aprender, circular, construir pontes. Com essa perspectiva plural, podemos focar na singularidade de cada um, em vez de fatores homogeneizantes como a idade.
A marca empregadora de hoje precisa ser atrativa para todas as faixas etárias, principalmente considerando o envelhecimento populacional e a maior expectativa de vida, ao se pensar na longevidade das organizações. Assim, captando e retendo colaboradores – inclusive líderes – de várias gerações, é possível que produtos e serviços também reflitam essa diversidade e gerem resultados melhores.
Na era das bolhas, as trocas entre perspectivas contrastantes podem parecer tarefa difícil, mas encontrar interesses comuns e definir metas compartilhadas, dentro do mesmo propósito, pode ser uma boa estratégia para lidar com as gerações diferentes no ambiente profissional. O gestor não deve ignorar as diferenças geracionais, mas valorizá-las. É também primordial que a liderança da organização seja, ela também, diversa.
Heverton Peixoto é engenheiro civil com MBA em Corporate Finance no InseaD, CEO do Grupo Omni e conselheiro do Instituto de Inovação em Seguros e Resseguros da FGV