O crédito e a credibilidade do gestor
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Heverton Peixoto: "Ao envolver o trabalhador nos desafios enfrentados pela organização, o líder cria elos e mata os fantasmas que circulam pelos corredores" (Crédito: Divulgação)
Por Heverton Peixoto
Toda posição de liderança pressupõe uma certa opacidade. O líder precisa transmitir firmeza nas comunicações com suas equipes, o que muitas vezes faz com que certos assuntos tenham a sua divulgação adiada até que haja mais definições e certezas. Mas, após o tempo de maturação necessário, toda comunicação deve ser feita com o maior grau de transparência possível. Isso é fundamental para a confiança do colaborador na organização e para cultivar os seus vínculos com a gestão. Em tempos de crise ou incerteza aumentada, o fluxo de informações dentro das empresas ganha ainda mais importância.
Hoje, vivemos esse momento. Apesar de indicadores econômicos positivos, como o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) nacional, as taxas de juros e a inflação pressionam negócios e consumidores no Brasil, enquanto o déficit fiscal do governo tem abalado a percepção dos investidores locais e internacionais, que mandam seu dinheiro para fora do País. Nesse contexto adverso, as empresas precisam ser mais ágeis em seus processos de decisão para se manterem competitivas. Isso não justifica, porém, omissões em se comunicar com os colaboradores.
Na verdade, em momentos de desânimo e baixa confiança, o diálogo da liderança com os times é ainda mais essencial para manter as equipes engajadas e alinhadas aos objetivos da companhia. Fingir que os problemas não existem – a “estratégia avestruz” – cria fantasmas piores que a realidade em si. E é justamente nas empresas mais impactadas por cenários desfavoráveis que o líder precisa chamar o time para o jogo, com clareza e diálogo.
Ao envolver o trabalhador nos desafios enfrentados pela organização, o líder cria elos e mata os fantasmas que circulam pelos corredores. Em tempos de fake news, ao expressar diretamente as suas dores e baixas aos colaboradores, as empresas reforçam a credibilidade dos seus canais oficiais de comunicação interna, combatendo, assim, quaisquer distorções ou rumores. De maneira objetiva e pragmática: temos um problema decorrente do cenário externo; somos vulneráveis por tais motivos; estes serão os impactos; e temos estas táticas planejadas para mitigar o problema.
Para 2025, no Brasil, é possível que o problema ganhe o nome de crise de crédito. Com juros e inflação elevados, podemos ver uma alta na inadimplência abalando negócios e famílias, especialmente as de renda mais baixa. Conforme o tema for ganhando a mídia, as conversas podem se multiplicar entre os colaboradores das empresas sobre os possíveis impactos, gerando um clima de dúvida e incerteza.
Cabe aos líderes assumir a frente, contudo, de forma ponderada. Após tomar o tempo necessário para consolidar as posições oficiais com as diretorias, delineando um discurso único e consistente, expô-lo para os colaboradores de forma transparente e direta. A comunicação deve incluir, ainda, como os desafios podem impactar no planejamento de suas carreiras e como a superação desses desafios pode contar nas suas avaliações para progressão profissional – gerando, aí, oportunidades para os que persistirem junto à empresa na travessia da crise.
A comunicação transparente e consistente com os colaboradores torna-se um fator decisivo para que uma organização consiga navegar por águas turbulentas e chegar ao outro lado. Se o capitão do navio não navega sozinho em calmaria, muito menos pode fazê-lo durante os períodos de tormenta. Uma crise de crédito na economia não precisa desencadear uma crise de credibilidade para o gestor.
Heverton Peixoto é engenheiro civil com MBA em Corporate Finance no InseaD, CEO do Grupo Omni e conselheiro do Instituto de Inovação em Seguros e Resseguros da FGV